sábado, 11 de abril de 2020

Da “Peste” de Camus ao coronavírus, aqui estão as metáforas de nossa precariedade

"O coronavírus - invisível a olho nu - está atingindo indiscriminadamente pessoas íntegras e pessoas frágeis. A economia também está sob ataque. Os defensores do racismo devem se confrontar com um mal que os lembra que a cor da pele não faz parte de uma hierarquia social. Quanto aos políticos, eles não sabem como se comportar diante de um perigo invisível que está se espalhando alegremente, como se o homem que maltratou tanto o planeta fosse invencível. Discordo do padre Paneloux, mas é claro que de tempos em tempos a natureza e o absurdo se unem para se vingar do homem, reduzindo-o a pouco, um corpo cujos pulmões são devorados por dentro até a morte por asfixia".

A opinião é do escritor franco-marroquino Tahar Ben Jelloun, em artigo publicado por La Stampa, 08-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Bernard Pivot publicou um tweet no qual destacava que "o coronavírus é anticapitalista (queda da bolsa de valores), ama ouro (+ 8%), é ecologista (menos aviões no céu), é misantrópico (odeia pessoas que falam entre si), é puritano (impede as pessoas que se tocarem)". O humorismo é necessário quando o medo exagera e se espalha de forma explosiva. Certamente, o vírus está conturbando a ordem mundial e está revelando o aspecto dramático da globalização.

O mundo sempre conheceu epidemias com consequências muito mais trágicas do que aquelas que conhecemos hoje. A peste matou milhões de pessoas. A gripe espanhola que se espalhou de 1918 a 1919 matou 50 milhões de pessoas em todo o mundo. O coronavírus, é ruim, mas não tem nada a ver com outras pandemias, mata 2% dos infectados. Isso não impediu a disseminação de um medo generalizado entre todas as populações.

Não poupa nenhum país. Não está claro como e por que a Itália possa ter sido atingida tão duramente em poucos dias. Turismo? Descuido? Um jornalista italiano, correspondente em Paris, sugeriu a hipótese de que este país tem a população mais idosa da Europa, sabendo que o coronavírus ataca principalmente os idosos. Essa explicação não é convincente. Se a Itália está nesse estado deplorável, parece mais um acaso.

Certamente, a maioria dos estados africanos não recebeu a visita inoportuna desse vírus, mas não é uma razão para baixar a guarda e não se preparar para o caso de decidir se refestelar ao sol.

Curiosamente, os franceses correram às livrarias para comprar o romance de Albert Camus, A Peste, escrito em 1947. A literatura continua sendo levada a sério. Como esse romance esclarecerá os leitores que são altamente informados, mas não tranquilizados?

Primeiro, o bacilo da peste é diferente do coronavírus, nascido dos animais silvestres comidos pelos chineses. Eu nunca esquecerei a primeira vez que li esse livro. Chocado, procurei imediatamente a "peste" do mundo em que vivia naquela época: aconteceu em Oran em 1940. Milhares de ratos morrem nessa cidade. Eles carregam o bacilo da peste, uma doença incurável naqueles dias. E eis que os habitantes começam a morrer, em grandes quantidades. O Dr. Rieux (o alter ego do autor) luta o melhor que pode contra essa tragédia. Ele a atribui ao absurdo da vida. A doença vem e, assim como chegou, desaparece, deixando uma mensagem aos humanos para lembrá-los de que o homem é portador de algo que se assemelha a esse bacilo, o mal, que "nunca será completamente eliminado".

Para Camus, a peste da época era o nazismo (que, portanto, chamaremos de "peste morena"). A resistência contra esse mal absoluto não é total. Existem colaboracionistas, homens cínicos e oportunistas, como Cottard, que se aproveita da situação para organizar o mercado negro, há o padre, padre Paneloux, que, como vemos hoje, pensa que essa epidemia seja um "castigo divino", um castigo enviado por Deus para atacar aqueles que se desviam do seu caminho.

A "conspiração" tornou-se a explicação sistemática do que está acontecendo no mundo. Ouvi dizer que foram "os serviços secretos dos EUA" que enviaram esse vírus para infectar a China e paralisar sua economia. Absurdo! Alguns dias depois, descobrimos que também os estadunidenses foram infectados. Enquanto isso, Trump diz na televisão que "a América destruirá esse vírus". Não destruiu nada.

O romance de Albert Camus permanece contemporâneo, desde que seja lido como uma metáfora múltipla sobre a precariedade da condição humana. A agonia e depois a morte de uma criança (filho do juiz Othon), atingido pelo bacilo da peste, faz Camus dizer, ou mais precisamente o doutor Rieux: “Recusarei até à morte amar essa criação onde as crianças são torturadas”. Hoje, as imagens de crianças atingidas na província síria de Iblid por bombas sírias e russas chegam até nós todas as noites em nossas telas e ficamos chocados tanto quanto o doutor Rieux fica diante dessa tragédia.


terça-feira, 7 de abril de 2020

PROFISSÃO: PROFESSOR



       1. Depois de percorrer um longo processo em minha formação nos períodos da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior, aos poucos, fui delineando os caminhos para a escolha e exercício de uma profissão. Essa fase de nossa vida é marcada por ansiedade, apreensão, dúvida, mas não podemos nos furtar da necessidade da escolha. Depois de muitas reflexões, ponderação, conversa com colegas da faculdade, amigos professores, fiz a escolha: ser professor

        Como qualquer profissão, essa também tem vantagens e desvantagens. Tem algumas vantagens, como: 

         - se o professor é concursado, goza de uma estabilidade no emprego, embora isso é colocado em pauta por autoridades que querem mudanças na educação; 

         - o professor trabalha com pessoas, o que exige muita dedicação, compreensão, jogo de cintura; investir em sua formação constantemente para lidar com as transformações que ocorrem na sociedade e poder, assim, dar o melhor de si em prol da construção de um mundo melhor; 

        - em torno de sua disciplina, trabalha conteúdos específicos, mas deve estar aberto para dialogar com outras áreas do conhecimento, e fazer conexões tendo domínio de conceitos importantes como Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Multidisciplinaridade em seu trabalho; 

        - então, a partir dessa amplitude em sua atuação, outro aspecto que julgo relevante nessa profissão é a possibilidade de desenvolver temas que dizem respeito aos valores morais e éticos da vida em sociedade. Isso para provocar reflexões que envolvam as relações interpessoais, políticas, ambientais, o mundo do trabalho e até nossa relação com os “animais não humanos”, para usar uma expressão utilizada pelo filósofo australiano, Peter Singer, cujo foco é voltado para as discussões sobre a Bioética; 

        - por fim, destaco em o “valor de educar” (Fernando Savater, filósofo espanhol) em que o professor contribui para uma vida melhor de seu país. Embora a “educação não tenha o papel de sozinha mudar o mundo, tão pouco o mundo sem ela muda”, para cunhar uma ideia do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire. Esse processo educacional é tão significativo que o “ser humano é aquilo que a educação faz dele”. (Immanuel Kant, filósofo alemão). 

       2. Sendo assim, a profissão professor é maravilhosa e por isso mesmo muito valorizada pela sociedade? Ledo engano. Infelizmente, essa escolha profissional é marcada por muitos revezes, entre outros, podemos relacionar: 

          - É verdade que ela é exaltada em prosas e versos nas peças publicitárias de nossos Governantes, veiculadas pela grande mídia, em que eles se arrogam os arautos e defensores ferrenhos de uma educação pública de qualidade para o país, mas no chão duro da escola as coisas são muito difíceis; 

      - os professores amargam baixos salários, condições de trabalhos ruins, e, muitas vezes, são desrespeitados no exercício de sua profissão, pelos governantes, por alunos, pela mídia, desvalorizados até por famílias, embora a maioria delas respeitam e apoiam os professores perante os problemas que enfrentam na escola; 

        - uma demonstração de desinteresse, falta de comprometimento com os estudos por uma parcela significativa dos estudantes; 

     - o índice de violência nas escolas é assustador, que a torna não um lugar de aprendizado significativo, mas um espaço de medo; 

        - uma carga horário estafante e, quando não, lecionando em duas ou três escolas para completar sua carga horária; 

         - enfrenta muitos problemas estruturais que, em boa medida, dificulta o seu trabalho, salvo exceção de escolas que estão melhor estruturadas. A esses problemas, pode-se relacionar muitos outros referentes a quantidade e a qualidade da Educação Pública nesse “Brasil varonil e céu cor de anil”. 

          3. Diante dessa desvalorização escancarada para quem quer ver, percebemos: 

          - o fechamento de salas de aula é cada vez mais acentuado; 

          - a eliminação do Período Noturno segue a todo vapor; 

          - a diminuição da modalidade de Ensino para Jovens e Adultos (EJA); 

          - uma crescente evasão escolar. Este fenômeno, Inclusive, atinge as escolas 
particulares, cujo índice chega a 27%; 

          - cresce a onda privatizante em relação à Educação Pública, voltada para o lucro, em que a educação é encarada como mercadoria igual as outras na prateleira do mercado; 

          - a diminuição de concursos públicos na área da educação; 

         - um viés tecnicista, pois visa a formação de uma obra-de-obra barata para o mercado capitalista de produção; 

       - assistimos um grande movimento, que não é de agora, em torno da Educação à distância (EAD), para além da Pandemia do Covid-19; 

        - há uma desvalorização das Ciências Sociais e Humanas, exatamente porque se descarta uma “Educação para o pensar”, reflexiva, crítica e transformadora. 

          4. Diante desse cenário, perguntamos: qual é o futuro do professor: Reconhecemos a importância que o professor ainda tem para a sociedade. Que este modelo de escola que está aí, precisa urgentemente de transformações para enfrentar os desafios do século XX. Que o professor parece muito se qualificar para manusear de forma competente as novas tecnologias, como uma ferramenta aliada à educação. De outro lado, o que vejo em meu cotidiano escolar é uma leva de professores que estão prestes a se aposentarem, não verem o momento de ir embora, pois a escola é um fardo pesado e as forças do ser humano chega ao seu limite. Continua chegando novos professores, é verdade, mas nem tantos assim. Muitos, ao entrarem para a educação pública se assustam com a realidade que se deparam, mas mesmo assim, seguem adiante. Outros, caem em descrédito e logo batem em retirada, decepcionados. Esse quadro é tão preocupante, que quando perguntamos aos estudantes sobre escolher a profissão para ser professor, constatamos que a maioria esmagadora, respondem com um sonoro “não”. Mas, por que será, hein? 

        O que esperar do “AMANHÃ NA EDUCAÇÃO E DO PROFESSOR?”. 

       “Se viver é perigoso, mas caminhar é preciso”, só resta o total desânimo ou, apesar dos pesares, ESPERANÇAR, às vezes, contra o próprio desengano que bate a porta de forma insistente. Mas, se não for isso, o que restará ao professor nessa longa e sinuosa estrada da Educação e seu papel social perante a humanidade? 

            Alguém arrisca um palpite que possa nos dar um outro norte, se é que há. 


São Paulo, abril de 2020 



Ivo Lima dos Santos 
Professor de Filosofia e Escritor
Diretor da Aproffesp Estadual 


sábado, 4 de abril de 2020

Filosofia em Ação. Pensar bem para bem viver: Filosofando em tempos de Coronavírus



Excelente reflexão critica da professora Maria Terezinha Corrêa.

" Todos somos convidados a filosofar, parar para refletir, analisar o caminho percorrido e pesar os resultados. Relembrar dos ensinamentos, questões e resultados que deram certo para se voltar a felicidade, não hedonista, mas, sim, do bem comum."

Filosofia em Ação. Pensar bem para bem viver: Filosofando em tempos de Coronavírus:      Em tempos de crise, seja ela pessoal ou social, há a necessidade de parar e refletir sobre o caminho que se fez e qual o caminho que ...


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O DESENVOLVIMENTO DO PENSAR NOS CICLOS: FUND. I E FUND. II.

Um breve comentário do Prof. Jose Caroba

      Ao meu ver, as perspectivas educacionais desde a infância, perpassam por uma necessidade de estímulo ao pensar dos estudantes a partir do 1° ano das séries iniciais. Posso dizer isto a partir de algumas (várias) experiências vivenciadas, em sala de aula, nos anos 2014/2015 e 2017/2018, trabalhando FILOSOFIA com CRIANÇAS nos segmentos Fund. I e Fund. II, em duas instituições distintas, a saber: Escola "Maria Theodora Pedreira de Freitas"(FIEB/ALPHAVILLE) e na Rede municipal de Pirapora do Bom Jesus, respectivamente.
     Essas experiências por mim vivenciadas, me fazem refletir e concordar com a autora MARIA TEREZINHA CORRÊA de que é necessário pensarmos no desenvolvimento do pensar (das crianças), desde o Ensino fundamental. Vou mais além.
        Ao longo dessas duas etapas acima citadas, pude perceber que os alunos nas séries iniciais (1° ao 5° ano), despertam com maior zelo e compromisso sua capacidade de pensar a vida, a escola e a aprendizagem, o seu desenvolvimento (enquanto pessoa), a tal ponto que sinto-me na obrigação de falar e escrever sobre isso.
       Trabalhei com alunos desde o 2° ano até o 9° ano. Foi possível perceber o quanto é necessário explorar essa capacidade fantástica de pensar das crianças, em especial, nas crianças do Fund. I. De fato, as crianças nesse ciclo, dão muito valor as indagações filosóficas a que elas são submetidas durante as aulas.
        Lembro-me me de uma certa vez, apliquei uma prova para um 3° "A", cuja questão era a seguinte: O que mais lhe intriga neste momento da vida? A resposta foi a seguinte: R: O que eu serei no futuro. Para mim ficou subentendido que aquele aluno já tinha preocupação com várias questões humanas na (e para) a vida adulta, e  dentre essas, as questões éticas.

     Portanto, o texto da Professora Maria Terezinha, nos coloca diante de uma reflexão necessária e URGENTE, porque o desenvolvimento da aprendizagem das crianças depende fundamentalmente do estímulo a um pensar criterioso, espontâneo, responsável que seja praticado pelos estudantes desde essas etapas da Educação básica.

Prof. Jose C. CAROBA.
(Licenciado em Filosofia e Letras).
Barueri/SP- 02/04/2020
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quinta-feira, 2 de abril de 2020

A importância do desenvolvimento do Pensar no Ensino Fundamental

        A importância do desenvolvimento do Pensar no Ensino Fundamental

Maria Terezinha Corrêa[1]

 O fundamento de uma sociedade humana é a educação. Por meio dela é que se constrói o indivíduo e o cidadão consciente de seus deveres. E para uma república democrática é necessário desenvolver não apenas, uma educação moral e cívica, mas também, uma educação crítica, em que a partir das virtudes desperta-se o comportamento ético e reflexivo para o exercício da cidadania. Contudo, quando começar o ensino do Pensar?
Na Legislação da Educação Nacional brasileira sob o número 9.394 de 20 de dezembro de 1996, no Art. 32, incisos III e IV estabelece conteúdos que diz respeito “a atitudes e valores”, bem como “o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a vida social”, o que reforça a presença da disciplina de Filosofia, não só tratada como tema transversal, mas sim, como conteúdo específico trabalhado por profissionais da área. No entanto, na grade curricular escolar esses conteúdos só são apresentados para os jovens brasileiros, na maioria das escolas públicas do território nacional, na última etapa da Educação básica, ou seja, no Ensino Médio, que determina, conforme o Art. 35, inciso III “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”. Com a Lei Nº 11.684 de 02/06/2008 e a Lei 13.415 de 2017 o ensino de Filosofia como disciplina na educação básica tornou-se obrigatória, mas ainda está ausente em várias escolas.
O desenvolvimento do Pensar exige tempo para filosofar, e consequentemente, esse tempo deve ser iniciado desde a infância, em que o ensino de Filosofia busca tratar do homem integral. Daí, a importância do desenvolvimento do Pensar desde a infância, pelo menos no Ciclo II ou séries finais do Ensino Fundamental, porque enriquece o entendimento da linguagem formal, necessária para a produção textual, tanto em Filosofia quanto em outras disciplinas científicas, haja vista que, geralmente, as crianças e os adolescentes têm mais contato com os textos narrativos. Assim, o filosofar promove o autoconhecimento, debates sobre a realidade em que vivemos,  transmitir as ciências da prudência, do senso de justiça, do pudor, ou seja, “virtude da civilidade” em idade escolar.
O legado que recebemos da Grécia Clássica foi a democracia, em que o cidadão para participar da republica era educado como homem virtuoso. Essa concepção foi defendia desde tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, pilares do Conhecimento Ocidental até os nossos dias. Montesquieu, Rousseau e tantos outros filósofos modernos e contemporâneos concebiam a educação como essencial para o desenvolvimento de uma sociedade justa, igualitária e democrática.
Portanto, o desenvolvimento do Pensar na educação escolar deveria ter um tempo que integrasse melhor as várias formas de aprender a ser, a conhecer, a fazer e a conviver, como experiência da realidade em que se vive. A escola é um local que circula o conhecimento e deve incentivar as crianças e os jovens a superar o senso comum, tornando as aulas uma “oficina de conceitos” como afirma Deleuze e Guattari (1992) em que todos ao investigar aprendem a filosofar, a dialogar, a buscar o sentido da vida, do conhecimento, da felicidade. Para garantir uma educação do Pensar aos estudantes brasileiros, resta as autoridades competentes exercer uma política comprometida com sociedade emancipadora.

Referência bibliográfica:
BRASIL. Lei e Diretrizes de Base da Educação Nacional, Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Senado, 1996.
BRASIL. Lei Nº 13.415 de maio de 2017. Brasília: Senado, 2017.
BRASIL. Orientações curriculares para o ensino médio. Volume 3. Secretaria de Educação básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação básica, 2006.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Ministério da Educação, 1997.
PLATÃO. Protágoras. Disponível em HTTP://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&zco_obra=6705. Acesso em 19 jul 2013. Tradução Luiza Christov




[1] A autora é graduada em Licenciatura em Filosofia (UFJF), em Pedagogia (UNITINS), mestre em Antropologia Social (USP) e com Especialização no Ensino de Filosofia (UFSCar). Leciona Filosofia desde 1992 na rede de ensino do Estado de São Paulo. Atualmente, é docente no Ensino Fundamental da Prefeitura de São José/SC..

quarta-feira, 1 de abril de 2020

REFLEXÕES SOBRE A LIBERDADE: Reflexões "de ontem", nos ajudando a enfrentar os desafios de hoje!


Dentre alguns dos livros que tive acesso neste período de férias, o livro NÃO ESPERE PELO EPITÁFIO... de Mario Sergio Cortella, publicado em 2005 pela editora vozes, com o subtítulo de “PROVOCAÇÕES FILOSÓFICAS” é uma obra instigante e necessária.

Algumas informações e dúvidas sobre a justificativa e feitura do livro foram respondidas no prefácio, assinado por Janete Leão Ferraz. Neste, ela afirma que o livro é um conjunto de crônicas publicadas pela folha de São Paulo entre os anos de 1994 e 2004, nos seus vários cadernos. Ainda no prefácio ela descreve que o autor “com tranquilidade mescla os Titâs da mitologia grega e o grupo de Rock Homônimo... Lança mão dos versos de Catulo da Paixão Cearense enquanto evoca o escritor francês Émile Zola, para desobstrair “O Belo”. Passeia por Goethe, Marie Von Ebner-Eschenbac, Drummond, Mauricio Tapajós, Renoir, a fim de tecer suas reflexões sem cerimônia, sem pré-conceito”.

Todas as crônicas são reveladoras e nos leva a profundas reflexões filosóficas, dentro e para além do contexto em que foram escritas.

O direito a liberdade para mim sempre foi uma questão de princípio inquestionável, por isso que dentre as inúmeras polêmicas contidas no livro, destaquei uma das crônicas mais significativas do referido exemplar “A liberdade, uma obsessão”.

O texto começa com um dos personagens mais importante das Américas, José Julian Martí. Na pagina 139 do livro existe um sucinto registro de sua vida: “Ainda adolescente, em Havana, foi condenado a seis meses de trabalho forçados por envolvimento com grupos revolucionários; aos 18 anos foi exilado na Espanha, e, sucessivamente, no México, Guatemala, Estados Unidos e Venezuela até que, os 42 anos, morreu em combate em sua terra natal”.Ele pagou o preço ao lutar pela liberdade, sem se resignar a viver sem ela.

Para mim é um dos grandes líderes das Américas, um farol da luta comunista que vale a pena ser lido e estudado profundamente.

O autor vai citar ainda o Educador Paulo Freire que foi perseguido por suas ideias e seu método de educação popular, assim como o Cardeal Paulo Evaristo Arns, histórico defensor dos direitos humanos, defensor de presos e perseguidos políticos no período da ditadura militar.

Na página 140 o autor acrescenta: “O que uniu esses três homens, e, resguardadas as óbvias diferenças, muitos outros, como Sócrates, Jesus de Nazaré, Giordano Bruno, Frei Caneca, Bakunin, Gandhi, Nelson Mandela, etc., etc.? todos eles, em nome da liberdade, colocaram a própria em sério risco!”.

O autor discorre sobre as afirmações de Erasmo de Roterdã, fala da influência de filmes clássicos como Queimada, Papillon, Fugindo do Inferno, Um sonho de Liberdade, Furyo, que denunciam todas as formas ditatoriais que nos deparamos ao longo da história humana.Essa temática também está fortemente presente na poesia, na música, como podemos observar na maestria de Caetano ao cantar “caminhando contra o vento sem lenço e sem documento”.Ao selecionar os versos incisivos de Mauricio Tapajós e P.C.Pinheiro “você corta um verso, eu escrevo outro, você me prende vivo, eu escapo morto”...externa a repulsa aos horrores das ditaduras, dos campos de concentração, dos apartheids e ao sequestro da liberdade.

Finaliza a crônica com Sartre ao constatar que o mesmo Sartre da frase ”o inferno são os outros” escreve n’O Existencialismo é um humanismo, pois, “o importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele”...

A liberdade e a falta de liberdade estão presentes desde os primórdios do processo evolutivo até em nossos dias atuais.

Quando nos deparamos com guerras imperiais, com a dominação de grandes potências sobre outras, com a falta da socialização das terras e riquezas, com a punição de jovens na Universidade de São Paulo por lutarem por melhoria educacional, com a criminalização dos movimentos sociais, com a supressão da liberdade, podemos afirmar que a liberdade está subordinada aos interesses das imposições políticas e econômicas,portanto, ela deve ser fruto das conquistas e da tomada de posição diante dos enfrentamentos de classe no nosso cotidiano.

Mais uma vez o compromisso programático, o exemplo de garra, luta e determinação de José Martí aponta e reafirma que o caminho dos povos dominados e submetidos a força dos colonizadores, o caminho inequívoco é a organização, união e determinação rumo a vitória e a derrota dos algozes da nossa classe.

Vamos construir e conquistar a liberdade nas ruas, nas lutas e nos enfrentamentos cotidianos, sob pena de nos contentarmos com a alheamento e a pseuda liberdade dos poderosos.



Aldo Santos-ex-vereador em SBC, coordenador da APEOESP SBC, Diretor da APROFFESP , vice presidente da  APROFFIB, militante da Enfrente!












  A verdade dos senhores da guerra e seus impérios O povo cubano, sob o comando dos revolucionários de Serra Maestra, se insurgiu contra o d...