AS DIFERENÇAS ENTRE A ÉTICA
E A RELIGIÃO
A ética distingui-se da religião quanto ao objetivo (a primeira quer uma vida melhor, a segunda,
algo melhor do que a vida) e a seu método (a primeira baseia-se na
razão e na experiência, a segunda, na revelação). Além disso, contudo, a ética é coisa de todos, ao passo que a
religião é questão de alguns, por mais numerosos que sejam: as pessoas
religiosas também tem interesses éticos, ao passo que nem todas as que se
interessam pela ética têm interesses religiosos. Longe de ser uma alternativa,
a ética
e a religião
servem para exemplificar para os alunos a diferença entre os princípios
racionais que todos nós podemos compreender e compartilhar (sem deixar de
distingui-los criticamente) e doutrinas muito respeitáveis mas cujo mistério
indemonstrável só alguns aceitam como válidos. Este pode ser, precisamente, o
primeiro tema a ser oferecido por um bom professor de filosofia aos alunos para
juma reflexão inicial sobre ética.
E a instrução religiosa para aqueles que
a desejem ou a queiram para seus filhos? É uma opção privada de cada um, que
o Estado
não deve impedir de modo algum, mas que ele também não é obrigado a custear
para os cidadãos. A catequese numa democracia pluralista é livre, mas
sem dúvida ela ganha em liberdade e diversidade quando o poder público não a
financia nem administra. Talvez os programas de estudo possam incluir alguma
disciplina que trate da história das religiões, de símbolos
e mitologias, com a atenção preferencial, se assim se quiser, para a tradição grego-romana-cristã,
tão importante para compreender a cultura europeia à qual pertencemos. No
entanto, ela não será prescritiva, mas descritiva:
não se ocupara de formar os crentes, mas de informar os alunos. E, é claro, não
devera estar a cargo de um corpo especial de professores vinculado a
arquidiocese (nem aos ulemás - entre os muçulmanos,
doutor em leis e religião -, aos rabinos ou aos dervixes – religioso muçulmano
que faz votos de pobreza, castidade e humildade...), mas de especialistas em
filosofia, historia ou antropologia. Só assim poderá ser avaliada para o
currículo acadêmico, como qualquer outra disciplina, pois a fé – pelo menos a
boa fé – não admite notas terrenas.
Savater, Fernando [Filósofo espanhol, O
valor de educar. São Paulo: Planeta, 2012, p. 75-76.]
Ivo Lima
Professor de Filosofia e Escritor
Autor dos livros: O
Recheio que Faltava em Sua
Vida
A Direção da Vida
Membro da Associação dos professores de filosofia e
filósofos do Estado de São Paulo -APROFFESP.
E-mail: ivolimasantos@yahoo.com.br
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