A
importância do desenvolvimento do Pensar no Ensino Fundamental
Maria Terezinha
Corrêa[1]
O fundamento de uma sociedade humana é a
educação. Por meio dela é que se constrói o indivíduo e o cidadão consciente de
seus deveres. E para uma república democrática é necessário desenvolver não
apenas, uma educação moral e cívica, mas também, uma educação crítica, em que a
partir das virtudes desperta-se o comportamento ético e reflexivo para o
exercício da cidadania. Contudo, quando começar o ensino do Pensar?
Na
Legislação da Educação Nacional brasileira sob o número 9.394 de 20 de dezembro
de 1996, no Art. 32, incisos III e IV estabelece conteúdos que diz respeito “a
atitudes e valores”, bem como “o fortalecimento dos vínculos de família, dos
laços de solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a vida
social”, o que reforça a presença da disciplina de Filosofia, não só tratada
como tema transversal, mas sim, como conteúdo específico trabalhado por
profissionais da área. No entanto, na grade curricular escolar esses conteúdos
só são apresentados para os jovens brasileiros, na maioria das escolas públicas
do território nacional, na última etapa da Educação básica, ou seja, no Ensino
Médio, que determina, conforme o Art. 35, inciso III “o aprimoramento do
educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico”. Com a Lei Nº 11.684 de
02/06/2008 e a Lei 13.415 de 2017 o ensino de Filosofia como disciplina na
educação básica tornou-se obrigatória, mas ainda está ausente em várias
escolas.
O
desenvolvimento do Pensar exige tempo para filosofar, e consequentemente, esse
tempo deve ser iniciado desde a infância, em que o ensino de Filosofia busca
tratar do homem integral. Daí, a importância do desenvolvimento do Pensar desde
a infância, pelo menos no Ciclo II ou séries finais do Ensino Fundamental,
porque enriquece o entendimento da linguagem formal, necessária para a produção
textual, tanto em Filosofia quanto em outras disciplinas científicas, haja
vista que, geralmente, as crianças e os adolescentes têm mais contato com os
textos narrativos. Assim, o filosofar promove o autoconhecimento, debates sobre
a realidade em que vivemos, transmitir as
ciências da prudência, do senso de justiça, do pudor, ou seja, “virtude da
civilidade” em idade escolar.
O
legado que recebemos da Grécia Clássica foi a democracia, em que o cidadão para
participar da republica era educado como homem virtuoso. Essa concepção foi
defendia desde tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, pilares do Conhecimento
Ocidental até os nossos dias. Montesquieu, Rousseau e tantos outros filósofos
modernos e contemporâneos concebiam a educação como essencial para o
desenvolvimento de uma sociedade justa, igualitária e democrática.
Portanto,
o desenvolvimento do Pensar na educação escolar deveria ter um tempo que integrasse
melhor as várias formas de aprender a ser, a conhecer, a fazer e a conviver,
como experiência da realidade em que se vive. A escola é um local que circula o
conhecimento e deve incentivar as crianças e os jovens a superar o senso comum,
tornando as aulas uma “oficina de conceitos” como afirma Deleuze e Guattari
(1992) em que todos ao investigar aprendem a filosofar, a dialogar, a buscar o
sentido da vida, do conhecimento, da felicidade. Para garantir uma educação do
Pensar aos estudantes brasileiros, resta as autoridades competentes exercer uma
política comprometida com sociedade emancipadora.
Referência
bibliográfica:
BRASIL. Lei e
Diretrizes de Base da Educação Nacional, Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
Brasília: Senado, 1996.
BRASIL. Lei Nº 13.415
de maio de 2017. Brasília: Senado, 2017.
BRASIL.
Orientações curriculares para o ensino médio. Volume 3. Secretaria de Educação
básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação básica, 2006.
BRASIL.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Ministério da Educação, 1997.
PLATÃO. Protágoras.
Disponível em HTTP://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&zco_obra=6705. Acesso em 19 jul
2013. Tradução Luiza Christov
[1]
A autora é graduada em Licenciatura em Filosofia (UFJF), em Pedagogia
(UNITINS), mestre em Antropologia Social (USP) e com Especialização no Ensino
de Filosofia (UFSCar). Leciona Filosofia desde 1992 na rede de ensino do Estado
de São Paulo. Atualmente, é docente no Ensino Fundamental da Prefeitura de São
José/SC..
O desenvolvimento do pensar nos ciclos: Fund. I e Fund. II.
ResponderExcluirAldo Movimento Estudantil 03/04/2020 | Views: 39
Um breve comentário...
Ao meu ver, as perspectivas educacionais desde a infância, perpassam por uma necessidade de estímulo ao pensar dos estudantes a partir do 1° ano das séries iniciais. Posso dizer isto a partir de algumas (várias) experiências vivenciadas, em sala de aula, nos anos 2014/2015 e 2017/2018, trabalhando FILOSOFIA com CRIANÇAS nos segmentos Fund. I e Fund. II, em duas instituições distintas, a saber: Escola "Maria Theodora Pedreira de Freitas"(FIEB/ALPHAVILLE) e na Rede municipal de Pirapora do Bom Jesus, respectivamente.
Essas experiências por mim vivenciadas, me fazem refletir e concordar com a autora MARIA TEREZINHA CORRÊA de que é necessário pensarmos no desenvolvimento do pensar (das crianças), desde o Ensino fundamental. Vou mais além.
Ao longo dessas duas etapas acima citadas, pude perceber que os alunos nas séries iniciais (1° ao 5° ano), despertam com maior zelo e compromisso sua capacidade de pensar a vida, a escola e a aprendizagem, o seu desenvolvimento (enquanto pessoa), a tal ponto que sinto-me na obrigação de falar e escrever sobre isso.
Trabalhei com alunos desde o 2° ano até o 9° ano. Foi possível perceber o quanto é necessário explorar essa capacidade fantástica de pensar das crianças, em especial, nas crianças do Fund. I. De fato, as crianças nesse ciclo, dão muito valor as indagações filosóficas a que elas são submetidas durante as aulas.
Lembro-me me de uma certa vez, apliquei uma prova para um 3° "A", cuja questão era a seguinte: O que mais lhe intriga neste momento da vida? A resposta foi a seguinte: R: O que eu serei no futuro. Para mim ficou subentendido que aquele aluno já tinha preocupação com várias questões humanas na (e para) a vida adulta, e dentre essas, as questões éticas.
Portanto, o texto da Professora Maria Terezinha, nos coloca diante de uma reflexão necessária e URGENTE, porque o desenvolvimento da aprendizagem das crianças depende fundamentalmente do estímulo a um pensar criterioso, espontâneo, responsável que seja praticado pelos estudantes desde essas etapas da Educação básica.
Prof. Jose C. CAROBA.
(Licenciado em Filosofia e Letras).
Barueri/SP- 02/04/2020.