segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Reflexões sobre a liberdade.

Dentre alguns dos livros que tive acesso neste período de férias, o livro NÃO ESPERE PELO EPITÁFIO... de Mario Sergio Cortella, publicado em 2005 pela editora vozes, com o subtítulo de “PROVOCAÇÕES FILOSÓFICAS” é uma obra instigante e necessária.

Algumas informações e dúvidas sobre a justificativa e feitura do livro foram respondidas no prefácio, assinado por Janete Leão Ferraz. Neste, ela afirma que o livro é um conjunto de crônicas publicadas pela folha de São Paulo entre os anos de 1994 e 2004, nos seus vários cadernos. Ainda no prefácio ela descreve que o autor “com tranquilidade mescla os Titâs da mitologia grega e o grupo de Rock Homônimo... Lança mão dos versos de Catulo da Paixão Cearense enquanto evoca o escritor francês Émile Zola, para desobstrair “O Belo”. Passeia por Goethe, Marie Von Ebner-Eschenbac, Drummond, Mauricio Tapajós, Renoir, a fim de tecer suas reflexões sem cerimônia, sem pré-conceito”.

Todas as crônicas são reveladoras e nos leva a profundas reflexões filosóficas, dentro e para além do contexto em que foram escritas.

O direito a liberdade para mim sempre foi uma questão de princípio inquestionável, por isso que dentre as inúmeras polêmicas contidas no livro, destaquei uma das crônicas mais significativas do referido exemplar “A liberdade, uma obsessão”.

O texto começa com um dos personagens mais importante das Américas, José Julian Martí. Na pagina 139 do livro existe um sucinto registro de sua vida: “Ainda adolescente, em Havana, foi condenado a seis meses de trabalho forçados por envolvimento com grupos revolucionários; aos 18 anos foi exilado na Espanha, e, sucessivamente, no México, Guatemala, Estados Unidos e Venezuela até que, os 42 anos, morreu em combate em sua terra natal”.Ele pagou o preço ao lutar pela liberdade, sem se resignar a viver sem ela.

Para mim é um dos grandes líderes das Américas, um farol da luta comunista que vale a pena ser lido e estudado profundamente.

O autor vai citar ainda o Educador Paulo Freire que foi perseguido por suas ideias e seu método de educação popular, assim como o Cardeal Paulo Evaristo Arns, histórico defensor dos direitos humanos, defensor de presos e perseguidos políticos no período da ditadura militar.

Na página 140 o autor acrescenta: “O que uniu esses três homens, e, resguardadas as óbvias diferenças, muitos outros, como Sócrates, Jesus de Nazaré, Giordano Bruno, Frei Caneca, Bakunin, Gandhi, Nelson Mandela, etc., etc.? todos eles, em nome da liberdade, colocaram a própria em sério risco!”.

O autor discorre sobre as afirmações de Erasmo de Roterdã, fala da influência de filmes clássicos como Queimada, Papillon, Fugindo do Inferno, Um sonho de Liberdade, Furyo, que denunciam todas as formas ditatoriais que nos deparamos ao longo da história humana.Essa temática também está fortemente presente na poesia, na música, como podemos observar na maestria de Caetano ao cantar “caminhando contra o vento sem lenço e sem documento”.Ao selecionar os versos incisivos de Mauricio Tapajós e P.C.Pinheiro “você corta um verso, eu escrevo outro, você me prende vivo, eu escapo morto”...externa a repulsa aos horrores das ditaduras, dos campos de concentração, dos apartheids e ao sequestro da liberdade.

Finaliza a crônica com Sartre ao constatar que o mesmo Sartre da frase ”o inferno são os outros” escreve n’O Existencialismo é um humanismo, pois, “o importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele”...

A liberdade e a falta de liberdade estão presentes desde os primórdios do processo evolutivo até em nossos dias atuais.

Quando nos deparamos com guerras imperiais, com a dominação de grandes potências sobre outras, com a falta da socialização das terras e riquezas, com a punição de jovens na Universidade de São Paulo por lutarem por melhoria educacional, com a criminalização dos movimentos sociais, com a supressão da liberdade, podemos afirmar que a liberdade está subordinada aos interesses das imposições políticas e econômicas,portanto, ela deve ser fruto das conquistas e da tomada de posição diante dos enfrentamentos de classe no nosso cotidiano.

Mais uma vez o compromisso programático, o exemplo de garra, luta e determinação de José Martí aponta e reafirma que o caminho dos povos dominados e submetidos a força dos colonizadores, o caminho inequívoco é a organização, união e determinação rumo a vitória e a derrota dos algozes da nossa classe.

Vamos construir e conquistar a liberdade nas ruas, nas lutas e nos enfrentamentos cotidianos, sob pena de nos contentarmos com a alheamento e a pseuda liberdade dos poderosos.

Aldo Santos-ex-vereador em SBC, coordenador da APEOESP SBC, presidente da APROFFESP  membro da APROFFIB, militante do PSOL.

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