terça-feira, 7 de abril de 2020

PROFISSÃO: PROFESSOR



       1. Depois de percorrer um longo processo em minha formação nos períodos da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior, aos poucos, fui delineando os caminhos para a escolha e exercício de uma profissão. Essa fase de nossa vida é marcada por ansiedade, apreensão, dúvida, mas não podemos nos furtar da necessidade da escolha. Depois de muitas reflexões, ponderação, conversa com colegas da faculdade, amigos professores, fiz a escolha: ser professor

        Como qualquer profissão, essa também tem vantagens e desvantagens. Tem algumas vantagens, como: 

         - se o professor é concursado, goza de uma estabilidade no emprego, embora isso é colocado em pauta por autoridades que querem mudanças na educação; 

         - o professor trabalha com pessoas, o que exige muita dedicação, compreensão, jogo de cintura; investir em sua formação constantemente para lidar com as transformações que ocorrem na sociedade e poder, assim, dar o melhor de si em prol da construção de um mundo melhor; 

        - em torno de sua disciplina, trabalha conteúdos específicos, mas deve estar aberto para dialogar com outras áreas do conhecimento, e fazer conexões tendo domínio de conceitos importantes como Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Multidisciplinaridade em seu trabalho; 

        - então, a partir dessa amplitude em sua atuação, outro aspecto que julgo relevante nessa profissão é a possibilidade de desenvolver temas que dizem respeito aos valores morais e éticos da vida em sociedade. Isso para provocar reflexões que envolvam as relações interpessoais, políticas, ambientais, o mundo do trabalho e até nossa relação com os “animais não humanos”, para usar uma expressão utilizada pelo filósofo australiano, Peter Singer, cujo foco é voltado para as discussões sobre a Bioética; 

        - por fim, destaco em o “valor de educar” (Fernando Savater, filósofo espanhol) em que o professor contribui para uma vida melhor de seu país. Embora a “educação não tenha o papel de sozinha mudar o mundo, tão pouco o mundo sem ela muda”, para cunhar uma ideia do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire. Esse processo educacional é tão significativo que o “ser humano é aquilo que a educação faz dele”. (Immanuel Kant, filósofo alemão). 

       2. Sendo assim, a profissão professor é maravilhosa e por isso mesmo muito valorizada pela sociedade? Ledo engano. Infelizmente, essa escolha profissional é marcada por muitos revezes, entre outros, podemos relacionar: 

          - É verdade que ela é exaltada em prosas e versos nas peças publicitárias de nossos Governantes, veiculadas pela grande mídia, em que eles se arrogam os arautos e defensores ferrenhos de uma educação pública de qualidade para o país, mas no chão duro da escola as coisas são muito difíceis; 

      - os professores amargam baixos salários, condições de trabalhos ruins, e, muitas vezes, são desrespeitados no exercício de sua profissão, pelos governantes, por alunos, pela mídia, desvalorizados até por famílias, embora a maioria delas respeitam e apoiam os professores perante os problemas que enfrentam na escola; 

        - uma demonstração de desinteresse, falta de comprometimento com os estudos por uma parcela significativa dos estudantes; 

     - o índice de violência nas escolas é assustador, que a torna não um lugar de aprendizado significativo, mas um espaço de medo; 

        - uma carga horário estafante e, quando não, lecionando em duas ou três escolas para completar sua carga horária; 

         - enfrenta muitos problemas estruturais que, em boa medida, dificulta o seu trabalho, salvo exceção de escolas que estão melhor estruturadas. A esses problemas, pode-se relacionar muitos outros referentes a quantidade e a qualidade da Educação Pública nesse “Brasil varonil e céu cor de anil”. 

          3. Diante dessa desvalorização escancarada para quem quer ver, percebemos: 

          - o fechamento de salas de aula é cada vez mais acentuado; 

          - a eliminação do Período Noturno segue a todo vapor; 

          - a diminuição da modalidade de Ensino para Jovens e Adultos (EJA); 

          - uma crescente evasão escolar. Este fenômeno, Inclusive, atinge as escolas 
particulares, cujo índice chega a 27%; 

          - cresce a onda privatizante em relação à Educação Pública, voltada para o lucro, em que a educação é encarada como mercadoria igual as outras na prateleira do mercado; 

          - a diminuição de concursos públicos na área da educação; 

         - um viés tecnicista, pois visa a formação de uma obra-de-obra barata para o mercado capitalista de produção; 

       - assistimos um grande movimento, que não é de agora, em torno da Educação à distância (EAD), para além da Pandemia do Covid-19; 

        - há uma desvalorização das Ciências Sociais e Humanas, exatamente porque se descarta uma “Educação para o pensar”, reflexiva, crítica e transformadora. 

          4. Diante desse cenário, perguntamos: qual é o futuro do professor: Reconhecemos a importância que o professor ainda tem para a sociedade. Que este modelo de escola que está aí, precisa urgentemente de transformações para enfrentar os desafios do século XX. Que o professor parece muito se qualificar para manusear de forma competente as novas tecnologias, como uma ferramenta aliada à educação. De outro lado, o que vejo em meu cotidiano escolar é uma leva de professores que estão prestes a se aposentarem, não verem o momento de ir embora, pois a escola é um fardo pesado e as forças do ser humano chega ao seu limite. Continua chegando novos professores, é verdade, mas nem tantos assim. Muitos, ao entrarem para a educação pública se assustam com a realidade que se deparam, mas mesmo assim, seguem adiante. Outros, caem em descrédito e logo batem em retirada, decepcionados. Esse quadro é tão preocupante, que quando perguntamos aos estudantes sobre escolher a profissão para ser professor, constatamos que a maioria esmagadora, respondem com um sonoro “não”. Mas, por que será, hein? 

        O que esperar do “AMANHÃ NA EDUCAÇÃO E DO PROFESSOR?”. 

       “Se viver é perigoso, mas caminhar é preciso”, só resta o total desânimo ou, apesar dos pesares, ESPERANÇAR, às vezes, contra o próprio desengano que bate a porta de forma insistente. Mas, se não for isso, o que restará ao professor nessa longa e sinuosa estrada da Educação e seu papel social perante a humanidade? 

            Alguém arrisca um palpite que possa nos dar um outro norte, se é que há. 


São Paulo, abril de 2020 



Ivo Lima dos Santos 
Professor de Filosofia e Escritor
Diretor da Aproffesp Estadual 


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