segunda-feira, 11 de março de 2013

Desenvolvimento e crise de consciência


DESENVOLVIMENTO E CRISE DE CONSCIÊNCIA

      “Por que é que uma espécie que é de tantas formas muito inteligente, pode também se comportar de maneiras que são aparentemente tão insanas?”

(Peter Russell, autor britânico, produtor de filmes sobre os estudos da consciência, espiritualidade e o futuro da humanidade)

      A espécie humana, ao longo da história, foi criando novas maneiras de lidar e dominar a natureza em busca de melhores condições de vida.
      O homem como ser pensante, racional, foi aperfeiçoando suas habilidades e construiu, no passado, cavernas; como o desenvolvimento do conhecimento e de novas técnicas, ele foi criando abrigos cada vez mais sofisticados que lhe proporcionasse conforto e beleza.
      Com o processo do desenvolvimento científico, o homem realizou a Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII, que deu um novo impulso à economia, às relações comerciais, criando novo cenário no mundo do trabalho, no qual as técnicas artesanais deram lugar às máquinas a vapor.
      A partir desse avanço, que criou condições indispensáveis para o pleno desenvolvimento do capitalismo, buscava-se novas terras, para extrair matéria-prima e, de outro lado, procurava-se novos mercados para consumir os produtos manufaturados.
      Assim, o homem passou a investir na produção em série, cujo objetivo era justamente atingir uma quantidade cada vez maior de consumidores, colocando as relações econômicas e comerciais em novos trilhos.
      Mas quanto mais o homem segue avançando por intermédio de novos inventos – como avanços nas telecomunicações, construção de satélites poderosos, computadores de última geração, o advento da Internet, novas pesquisas sobre o DNA -, as desigualdades sociais continuam aumentando e penaliza a grande maioria no planeta Terra.
      Mas no bojo de muitos avanços científicos, foram surgindo alguns efeitos colaterais que estão ameaçando o futuro da humanidade.
      Embora o homem planejasse com a melhor das intenções a melhoria de vida, por exemplo, passou a enfrentar um crescimento populacional cada vez maior, que coloca a Terra em seus limites e em estado de alerta.
      Um outro fator que devemos destacar é o apego exagerado aos bens materiais. Uma parcela da humanidade tem muito mais do que necessita para viver, enquanto a grande maioria não tem o básico, gerando fome, violência, guerras e doenças que ameaçam a sobrevivência coletiva.
      Mas percebendo o abismo que o homem criou, por que ele não muda seu comportamento? Por que é que ele, ao mesmo tempo em que evolui materialmente, espalha destruição por todo lado? O que está errado com o homem?
      Na verdade, o que subjaz a esse cenário dramático que coloca a humanidade à beira do precipício, é também uma crise de consciência. O homem evoluiu externamente, através de inventos fantásticos, revolucionou as técnicas no mundo da produção, do conhecimento e da comunicação, mas quanto ao seu autoconhecimento, o homem precisa crescer muito ainda.
      Então, o que está em questão, entre outras coisas, é o desenvolvimento do eu interior para que a humanidade descortine uma nova aurora no alvorecer de sua evolução.
      Precisamos superar crenças ultrapassadas, pois julgamos e medimos os outros de acordo com nossos caprichos e interesses pessoais; o preconceito nos afasta do diferente, porque encaramos o outro como uma ameaça, um inimigo; nos atiramos nos braços da intolerância, nos perdemos em descaminhos e não trabalhamos na construção de um mundo melhor para nós e para as futuras gerações.
      Mas para que isso aconteça, é necessário derrubar barreiras, utilizar as novas descobertas científicas com respeito à própria espécie; pautar as políticas em princípios de um desenvolvimento sustentável, mas que contemple direitos individuais e coletivos; levar em conta o progresso material, mas sem esquecer a dimensão espiritual, para criar uma nova ordem mundial com os contornos da justiça e da paz.
      Irá a humanidade dar esse salto? Os rumos do desenvolvimento econômico, a utilização das descobertas científicas e as relações entre os povos é que irão dizer.
      Mas será uma pena o homem se esforçar tanto para construir coisas extraordinárias e naufragar na sua própria estupidez, na sede de poder, na exploração do mais forte sobre o mais fraco, que o cega, o torna insensível aos rumos desastrosos que segue a humanidade; além disso, é preciso questionar o paradigma que rege a sociedade capitalista de produção, produtora de espetáculos, consumista, que dá pouco valor ao “ser” e exalta o “ter”, através da cartilha que embala o deus mercado.
      Essa tarefa é de todas as nações e não apenas de alguns governos ou países, que se julgam os detentores da verdade, os condutores dos destinos da humanidade, mas não passam de pretensiosos arrogantes, porque não enxergam que o desenvolvimento econômico, o progresso científico devem beneficiar o bem comum, pois só assim a humanidade superará seus problemas e dará um salto de qualidade em direção a um novo amanhã.


Ivo Lima
Professor de Filosofia e Escritor
Autor dos livros: O Recheio que Faltava em Sua Vida
A Direção da Vida
Membro da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo -APROFFESP.


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