DESENVOLVIMENTO E CRISE DE CONSCIÊNCIA
“Por que é que uma espécie que é de
tantas formas muito inteligente, pode também se comportar de maneiras que são
aparentemente tão insanas?”
(Peter Russell, autor britânico, produtor de filmes sobre os
estudos da consciência, espiritualidade e o futuro da humanidade)
A espécie humana, ao longo da história,
foi criando novas maneiras de lidar e dominar a natureza em busca de melhores
condições de vida.
O homem como ser pensante, racional, foi
aperfeiçoando suas habilidades e construiu, no passado, cavernas; como o
desenvolvimento do conhecimento e de novas técnicas, ele foi criando abrigos
cada vez mais sofisticados que lhe proporcionasse conforto e beleza.
Com o processo do desenvolvimento científico,
o homem realizou a Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII, que deu
um novo impulso à economia, às relações comerciais, criando novo cenário no
mundo do trabalho, no qual as técnicas artesanais deram lugar às máquinas a
vapor.
A partir desse avanço, que criou
condições indispensáveis para o pleno desenvolvimento do capitalismo,
buscava-se novas terras, para extrair matéria-prima e, de outro lado,
procurava-se novos mercados para consumir os produtos manufaturados.
Assim, o homem passou a investir na
produção em série, cujo objetivo era justamente atingir uma quantidade cada vez
maior de consumidores, colocando as relações econômicas e comerciais em novos
trilhos.
Mas quanto mais o homem segue avançando
por intermédio de novos inventos – como avanços nas telecomunicações,
construção de satélites poderosos, computadores de última geração, o advento da
Internet, novas pesquisas sobre o DNA -, as desigualdades sociais continuam
aumentando e penaliza a grande maioria no planeta Terra.
Mas no bojo de muitos avanços
científicos, foram surgindo alguns efeitos colaterais que estão ameaçando o
futuro da humanidade.
Embora o homem planejasse com a melhor
das intenções a melhoria de vida, por exemplo, passou a enfrentar um
crescimento populacional cada vez maior, que coloca a Terra em seus limites e
em estado de alerta.
Um outro fator que devemos destacar é o
apego exagerado aos bens materiais. Uma parcela da humanidade tem muito mais do
que necessita para viver, enquanto a grande maioria não tem o básico, gerando
fome, violência, guerras e doenças que ameaçam a sobrevivência coletiva.
Mas percebendo o abismo que o homem
criou, por que ele não muda seu comportamento? Por que é que ele, ao mesmo
tempo em que evolui materialmente, espalha destruição por todo lado? O que está
errado com o homem?
Na verdade, o que subjaz a esse cenário
dramático que coloca a humanidade à beira do precipício, é também uma crise de
consciência. O homem evoluiu externamente, através de inventos fantásticos,
revolucionou as técnicas no mundo da produção, do conhecimento e da
comunicação, mas quanto ao seu autoconhecimento, o homem precisa crescer muito
ainda.
Então, o que está em questão, entre
outras coisas, é o desenvolvimento do eu interior para que a humanidade
descortine uma nova aurora no alvorecer de sua evolução.
Precisamos superar crenças ultrapassadas,
pois julgamos e medimos os outros de acordo com nossos caprichos e interesses pessoais;
o preconceito nos afasta do diferente, porque encaramos o outro como uma
ameaça, um inimigo; nos atiramos nos braços da intolerância, nos perdemos em
descaminhos e não trabalhamos na construção de um mundo melhor para nós e para
as futuras gerações.
Mas para que isso aconteça, é necessário
derrubar barreiras, utilizar as novas descobertas científicas com respeito à
própria espécie; pautar as políticas em princípios de um desenvolvimento
sustentável, mas que contemple direitos individuais e coletivos; levar em conta
o progresso material, mas sem esquecer a dimensão espiritual, para criar uma
nova ordem mundial com os contornos da justiça e da paz.
Irá a humanidade dar esse salto? Os rumos
do desenvolvimento econômico, a utilização das descobertas científicas e as
relações entre os povos é que irão dizer.
Mas será uma pena o homem se esforçar
tanto para construir coisas extraordinárias e naufragar na sua própria
estupidez, na sede de poder, na exploração do mais forte sobre o mais fraco,
que o cega, o torna insensível aos rumos desastrosos que segue a humanidade; além
disso, é preciso questionar o paradigma que rege a sociedade capitalista de
produção, produtora de espetáculos, consumista, que dá pouco valor ao “ser” e
exalta o “ter”, através da cartilha que embala o deus mercado.
Essa tarefa é de todas as nações e não apenas
de alguns governos ou países, que se julgam os detentores da verdade, os
condutores dos destinos da humanidade, mas não passam de pretensiosos
arrogantes, porque não enxergam que o desenvolvimento econômico, o progresso
científico devem beneficiar o bem comum, pois só assim a humanidade superará
seus problemas e dará um salto de qualidade em direção a um novo amanhã.
Ivo Lima
Professor de Filosofia e Escritor
Autor dos livros: O
Recheio que Faltava em Sua
Vida
A Direção da Vida
Membro da Associação dos professores de filosofia e
filósofos do Estado de São Paulo -APROFFESP.
E-mail: ivolimasantos@yahoo.com.br
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