terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Tecnologia e trabalho


“Lutemos agora para libertar o mundo, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo em que a razão, a ciência e o progresso conduzam a ventura de todos nós. Unamo-nos!”

(Charles Chaplin, ator diretor inglês, 1889-1977)
     

Quando analisamos o trabalho no mundo globalizado, competitivo, sob a égide do mercado, é necessário abordar várias questões, mas vou centrar minha atenção no trabalho alienado e nas consequências das novas tecnologias implantadas pelas empresas para o aumento da produtividade, redução da mão de obra e maior lucratividade. 

Em primeiro lugar, parto da definição do conceito de trabalho. 

Trabalho: atividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente e satisfazer as necessidades humanas. Por isso, o conceito de trabalho implica: 1°. Dependência do homem em relação à natureza, no que se refere a sua vida e aos seus interesses; 2°. Reação ativa a essa dependência para a elaboração ou à utilização dos elementos naturais; 3°. Um grau de esforço, sofrimento ou fadiga, que constitui o custo humano do trabalho. 

Segundo Karl Marx (1818-1883) os homens começaram a distinguir-se dos animais quando passaram a produzir seus próprios meios de subsistência - progresso condicionado pela organização física humana – iniciando indiretamente sua vida material. 

Portanto, o trabalho não é apenas o meio com que os homens asseguram sua subsistência, é algo intrínseco à produção de sua própria vida. A produção e o trabalho constituem o próprio homem, seu modo específico de ser e fazer-se homem. 

O trabalho também o transforma num ente social, pois o coloca em contato com os outros indivíduos e com a natureza: desse modo, as relações de trabalho e de produção constituem a trama ou a estrutura autêntica da história, cujos reflexos são as várias formas de consciência. Porém, isso acontece no trabalho não alienado, que não se tornou mercadoria. 

No trabalho alienado manifesta-se o contraste entre a personalidade individual do proletário e o trabalho como condição de vida que lhe é imposta pelas relações das quais faz parte como objeto, e não como sujeito. 

Tomando agora alguns aspectos do texto “Prolongamento da jornada de trabalho”, traduzido por Reginaldo Sant’Anna, percebemos que a maquinaria é implementada para dar um novo ritmo à produção, causando, de um lado, a modernização da fábrica e, de outro, a exploração da mão de obra, por meio do prolongamento da jornada de trabalho “além dos limites estabelecidos pela natureza humana”. 

A implementação da maquinaria possibilita ao capitalista sempre investir em sua modernização, adequando a mão de obra, em vista do aumento da produtividade e, consequentemente, a obtenção crescente da mais-valia. Para tanto, prolonga-se também a duração diária do trabalho, por meio da exploração dos trabalhadores. 

É nessa engrenagem do capitalismo, que a modernização torna-se um fator fundamental para a obtenção de uma maior lucratividade, mesmo que isso custe o sacrifício do trabalhador, que quanto mais produz, menos se reconhece naquilo que faz e cai nas malhas da alienação. 

Nesse sentido, Karl Marx postula que o trabalho alienado causa cansaço, fadiga, sofrimento e o trabalhador nega-se a si mesmo, sendo feliz apenas nos dias de folga. É um trabalho que não pertence ao trabalhador, mas sim à outra pessoa que dirige a produção. Dessa forma, a lógica da exploração deixa os trabalhadores com as migalhas de salários injustos diante daquilo que seus esforços ajudam a produzir. 

Para concluir, “como o homem moderno se sente ao mesmo tempo como o vendedor e mercadoria a ser vendida no mercado, sua auto-estima depende de condições que escapam ao seu controle. Se ele tiver sucesso, será ´valioso`; se não, ´imprestável`. O grau de insegurança daí resultante dificilmente poderá ser exagerado”. (Fromm, Erich. Análise do Homem, p. 73.) 


Ivo Lima
Professor de Filosofia e Escritor
Autor dos livros: O recheio que faltava em sua vida
A direção da vida
Membro da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo – APROFFESP
E-mail: ivolimasantos@yahoo.com.br

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