domingo, 19 de agosto de 2012

Síntese da Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Filosofia

Clique para ler a síntese



Conforme combinado, encaminho a síntese para contribuir com o debate nos encontros regionais do dia 05/09/2012.
Estamos aguardando os demais documentos para enviar aos colegas.

Sem mais,

Atenciosamente,

Aldo Santos

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

PUBLICADO NO DIÁRIO OFICIAL O ABONO DE PONTO PARA O DIA 5 DE SETEMBRO DE 2012.

Importante:

PUBLICADO NO DIÁRIO OFICIAL O ABONO DE PONTO PARA O DIA 5 DE SETEMBRO DE 2012.

Pauta:

1-Conjuntura Educacional e condições de trabalho;
2-debate da proposta de filosofia do Estado de São Paulo;
3- Relato e fatos do cotidiano do professor de filosofia;
4-estruturação e funcionalidade das coordenações regionais da APROFFESP;
5- Indicação da delegação ao  1° Encontro de Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo.
AS COORDENAÇÕES INDICADAS NA PRIMEIRA REUNIÃO  FICARÃO RESPONSÁVEIS PELO ENCAMINHAMENTO DESSA SEGUNDA REUNIÃO REGIONAL DA APROFFESP. NOS LUGARES ONDE NÃO OCORRERAM OS DEBATES, VAMOS NOS EMPENHAR PARA QUE OS MESMOS ACONTEÇAM .
Abaixo publicamos o inteiro teor do despacho do Gabinete do Secretário.

O Diário Oficial publicou no dia 04/07/2012 o seguinte despacho do Gabinete do  Secretário de Educação do Estado de São Paulo:
“Interessado: Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo-APROFFESP.


Assunto: Afastamento/solicitação.

Autorizando. Diante do que consta no oficio 008/2012, e considerando as disposições do artigo 69 da lei 10.261/68, nos termos propostos o afastamento para o dia 05/09/2012, para os professores de Filosofia que participarem da reunião para aprofundar o debate com base  nos seguintes temas: Conjuntura Educacional e condições de trabalho; debate da proposta de filosofia do Estado de São Paulo; Relato e fatos do cotidiano do professor de filosofia; estruturação e funcionalidade das coordenações regionais da APROFFESP e Indicação da delegação ao  1° Encontro de professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo.”
Esperamos que com essa conquista possamos avançar ainda mais no debate filosófico na rede estadual e particular, aprofundando os temas propostos e coletivamente construirmos  uma proposta  debatida  democraticamente  pelos   professores  de Filosofia do Estado de São Paulo.

Convidamos a todos para que possamos nos empenhar na realização dessa importante atividade Filosófica. Solicitamos que as coordenações regionais da Aproffesp, constituídas na última reunião, assumam a realização desse próximo evento. Nossa próxima reunião da diretoria será no dia 21/07/201, na capital. Essa reunião é aberta aos professores.
Mesmo diante de um calendário exíguo, sugerimos que haja reuniões das coordenações regionais e nos propomos a comparecer as mesmas com o objetivo de consolidar e avançar ainda mais nossa união no Estado de São Paulo e no Brasil.
Com saudações filosóficas.

Atenciosamente,

Diretoria da Aproffesp

Presidente: Aldo Santos
Vice-presidente: Chico Gretter
Secretário: José de Jesus
Diretor de comunicação e propaganda: Cícero Rodrigues da Silva
Tesoureiro: Anízio Batista de Oliveira
Diretor de políticas pedagógicas: Antonio Celso de Oliveira
Diretor de relações institucionais: Rita Leite Diniz

Diretoria de Base da APROFFESP

Alan Aparecido Gonçalves, Professor em SBC;
Chirlei Bernardo do Nascimento, Professora em Guarulhos;
Gilmar Soares de Oliveira, Professor em Santo André;
Celso Augusto Torrano, Professor em Osasco;
Marcelo Henrique P. Naves, da Z.Norte- Capital;
Jairo de Sousa Melore, Professor em Mongaguá;
Edson Genaro Maciel, Licenciado em Filosofia, Araçatuba;
Fernando Borges Correia Filho, professor em Taubaté;
Carlos Rocha, Licenciado em Filosofia Hortolândia-Campinas;
Alexandre dos Santos Yamazaki, professor na Lapa-capital;
Sady Carlos de Souza, Professor em Rio Pequeno;
Anderson Grange, Professor em Jundiaí;
Marco Aurélio P. Maida, professor em Suzano.


Aldo Santos  8250.5385  / Chico gretter: 11-93869074

"Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de maneiras diferentes; Cabe agora transformá-lo" (Karl Marx, Teses contra Feuerbach, 11).


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Reunião extraordinária da Diretoria da Associação dos Professores de Filosofia...


Convidamos os membros da diretoria da Aproffesp para uma reunião extraordinária no dia10 de agosto de 2012, às 14 horas na casa da solidariedade na praça da árvore - SP.

Pauta

1- Informes da reunião na Secretaria da Educação com a equipe de filosofia;

2-Preparação da reunião do dia 05/09/2012;

3-Estruturação e finanças.

Obs.:nossas reuniões são sempre abertas aos  professores

Favor confirmar a presença

Atenciosamente,

Aldo Santos

Presidente da aproffesp.




sábado, 4 de agosto de 2012

Filosofilmar


ESCRITO POR CASSIANO TERRA RODRIGUES
SÁBADO, 04 DE AGOSTO DE 2012

A história da relação entre filosofia e cinema pode ser escrita de muitas maneiras. Posso dizer que prefiro “estória”, ainda que digam os dicionários essa palavra não exista. O que farei doravante não é mais que apresentar superficialmente algumas linhas de aproximação.

A relação sempre foi tensa. Os filósofos nem sempre se deixaram levar pelo cinema, ou ao cinema, pacificamente. Talvez pela natureza bastante antirracional e imóvel que a plateia assume na sala de cinema, como se, ao entrar nela, entrasse na caverna de Platão. O cinema, ao contrário, sempre levou a filosofia às telas. Arrisco dizer que o cinema sempre levou a filosofia além de si.

Projeções de simulacros, representações falsas do real, ou mesmo cópia da cópia imperfeita do mundo sensível, feita de imagens e pseudo-conceitos, seja lá o que for, o cinema não é a arte mais apreciada pelos filósofos, que comumente preferem a linearidade e a facilidade para a dedução do texto escrito ou as artes feitas diretamente pela mão do homem. Não podemos deixar de notar que a proximidade entre o cinema e o mito (ou alegoria) fundador da filosofia faz pensar que à filosofia, em sua busca pelo conceito, cabe o papel de desmistificar as imagens impuras do cinema. Ou então, que ao cinema cabe a função meramente apaziguadora e, portanto, secundária, de aliviar a mente após o sério e pesado exercício intelectual – assim era que Wittgenstein se dizia fã dos filmes de Carmem Miranda ou de westerns.
Contemporâneo do nascimento da sétima arte, Bergson é o inventor de uma ideia que Gilles Deleuze tornará bastante famosa: a imagem-movimento, apresentada em seu livro Matéria e Memória, de 1896.

Mas é só no quarto capítulo de A Evolução Criadora, de 1907, que a ligação com o cinema aparece. O capítulo se chama “O mecanismo cinematográfico do pensamento e a ilusão mecanicista”, e nele Bergson afirma categoricamente: “o mecanismo de nosso conhecimento vulgar é cinematográfico”. Em outras palavras, o pensamento se move cinematograficamente, imagem em movimento em ação. A maneira como nosso aparato cognitivo reproduz o devir, a flexibilidade e a variedade da vida, é a mesma maneira como o cinematógrafo reproduz o movimento a partir de fotografias estáticas – criando a ilusão do movimento pela sucessão muito rápida das fotografias individuais. Nosso aparelho cognitivo, incapaz de registrar os detalhes e particularidades inumeráveis do devir, compõe artificialmente uma imagem geral em movimento, abstraída de várias outras imagens de estados particulares. Nossa percepção, nossa inteligência e nossa linguagem, assim, dão-nos ilusões, imitações imperfeitas e infiéis do devir:


“Em vez de nos prender ao devir interior das coisas, colocamo-nos fora delas para recompor o seu devir artificialmente. Temos visões quase instantâneas da realidade que passa e, como elas são características dessa realidade, basta-nos alinhá-las ao longo de um devir abstrato, uniforme, invisível, situado no fundo do aparelho do conhecimento, para imitar o que há de característico nesse mesmo devir. Percepção, intelecção, linguagem em geral procedem assim. Quer se trate de pensar o devir ou de exprimi-lo, ou até de o perceber, o que fazemos é apenas acionar uma espécie de cinematógrafo interior.” (p. 333).
Para Bergson, pensar cinematograficamente não é bom. Na verdade, a nossa única maneira de pensar capta mal o movimento do devir. Justamente por proceder cinematograficamente, troca o movimento real por um falso movimento, uma ilusão de movimento. Temos de aceitar essa nossa imperfeição: nosso pensamento cinematográfico falsifica o real.

O juízo negativo sobre o cinema é repisado até por alguns de seus entusiastas. Levando o cinema a sério, Walter Benjamin o compreendia no contexto da perda da aura das obras de arte. “Aura” é uma noção benjaminiana para designar o conjunto de características que fazem de uma obra de arte o que ela é: o fato de ter sido feita por um artista, em dado momento histórico e social definido, dá a uma obra de arte sua originalidade, sua unicidade e sua historicidade. Uma cópia, por isso, não tem o mesmo valor. Já o cinema é produzido industrialmente, e não por um único artista. A estética cinematográfica dependeria completamente de suas condições industriais de produção e reprodução: obras de arte (re)produzidas tecnicamente por máquinas, como quaisquer outras mercadorias, fotografias e filmes não têm a aura de uma pintura, uma escultura ou mesmo uma apresentação teatral. Por serem objetos de consumo de massa, reprodutíveis ad infinitum, perderiam o caráter de fenômeno histórico único e original das obras de arte tradicionais. Assim é que o cinema, ainda mais que a fotografia, traduziria perfeitamente a desmistificação e a reificação da realidade social moderna, jogando nas telas as imagens vivas de um mundo em que tudo é comercializável, substituível e superficial. É nessa chave que devemos entender o elogio benjaminiano a Chaplin: denunciador da alienação da classe trabalhadora, Chaplin mostraria como ninguém o lado negativo do nosso mundo, o mesmo mundo em que nasce o cinema. Uma marca negativa de nascença da qual a correta utilização política o livraria, assim como só uma revolução poderia transformar o mundo para melhor.

Benjamin, escrevendo na década de 1930, preocupava-se com a ascensão do nazi-fascismo na Europa e com a utilização do cinema como instrumento de propaganda política. Apesar de crítico, Benjamin não evita o juízo sobre o papel secundário do cinema relativamente à política – o cinema seria um meio, certamente privilegiado, de produção e transmissão de ideologia política, mas ainda assim um meio. Sua principal tese quanto à natureza estética do cinema é a da tactilidade da imagem. Em outras palavras, a imagem cinematográfica é táctil, isto é, toca a percepção humana de uma maneira como nenhuma outra arte o faz. Pela combinação de imagem e movimento, a construção cinematográfica do espaço-tempo provoca um choqueperceptivo no observador, a tal ponto que o distrai completamente, absorvendo-o. A ilusão de realidade assim atingida é incomparável. Outra aura parece surgir, uma nova fascinação nasce da exposição aliada à reprodução em massa. Por isso mesmo o cinema presta-se tão bem a usos políticos.

A conclusão de Benjamin é direta: se o fascismo utiliza o cinema para estetizar a política e, com isso, produzir alienação em massa, por que é que o comunismo não faz o mesmo? Ora, Benjamin não desaprova a utilização instrumental do cinema, mas apenas a finalidade ideológica com a qual ele é utilizado. Em lugar de usar filmes para espetacularizar desfiles militares, ele defende a politização da estética. Ao contrário do fascismo, o comunismo deveria se aproveitar da peculiar estética cinematográfica para conscientizar, e não alienar as massas. Nada do que vemos na tela é real; podemos mudar ou não o real, conforme a ficção projetada nos persuadir a uma ou outra forma de conduta e pensamento.

Levou algum tempo para os filósofos abandonarem essa maneira de ver o cinema. Edgar Morin, por exemplo, chegou mesmo a trabalhar em cinema e ajudou a definir um gênero próprio de documentário, o cinéma-vérité, cujo marco inicial é considerado ser Crônica de um Verão, de 1961, co-realizado por Morin em parceria com Jean Rouch. Podemos citar mesmo Guy Debord, ou então Terrence Malick, que também lecionou filosofia no Massachusetts Institute of Technology. O orientador de Malick foi Stanley Cavell. Ele e Gilles Deleuze, na França, podem ser considerados pioneiros filósofos a desenvolverem uma substancial reflexão filosófica própria e específica sobre o cinema, sem inferiorizá-lo frente a formas mais tradicionais de arte e pensamento. Tanto um como outro se perguntam: o que é feito do pensamento no cinema? Qual a especificidade do pensamento cinematográfico? E, com essas perguntas, apresentam uma tese muito forte: cinema é pensamento, cinema é linguagem, sem nada dever a nenhum real exterior ou quaisquer outras formas de pensamento e linguagem.

Não vou, aqui, desenvolver uma reflexão sobre as ideias de Cavell e Deleuze sobre o cinema, inclusive porque me falta competência para tal. Quero, antes, apresentar mui resumidamente as ideias de Jean Epstein (1897-1953) e André Bazin (1918-1958). E isso pela simples razão de mostrar que pensadores do cinema também filosofam e com muita propriedade. Afinal, filosofar não é uma atividade peculiar a um profissional chamado filósofo (e, segundo o meu juízo, a profissionalização da filosofia levou a uma sua decadência atroz).

Para Jean Epstein, a máquina cinematográfica tem uma inteligência própria, ela é um verdadeiro “filósofo-robô cinematográfico”: “O cinematógrafo é um desses robôs intelectuais, ainda parciais, que, com a ajuda de dois sentidos foto e eletro-mecânicos e de uma memória registradora fotoquímica, elabora representações, quer dizer, um pensamento, no qual reconhecemos os quadros primordiais da razão” (p. 48). Diferentemente de Walter Benjamin, que entendia a câmera como mero aparelho técnico capaz de aumentar a percepção humana, de ver o que o olho humano naturalmente não vê, Epstein chama atenção a que o cinema coloca em questão o próprio conhecimento. Não se trata apenas de servir de auxílio aos sentidos humanos; o cinema constrói percepções inéditas, novas representações, faz-nos ver o invisível, dá-nos a conhecer o que de outra maneira seria incognoscível. Mais: unindo o olho inconsciente e automaticamente passivo da câmera ao olho consciente e subjetivamente ativo do cineasta, o cinema dá corpo vivo à contradição.

Para Epstein, o cinema cria um mundo em que os tradicionais dualismos filosóficos tornam-se obsoletos (sensível/inteligível, pensamento/coisas, real/irreal, sonho/vigília etc.) e, assim, vai além da filosofia (“Le cinéma et les au-delà de Descartes” é título de um de seus artigos). Ligando espaços e tempos de maneira nova e como só ele pode fazer, o cinema desbanca uma concepção linear da história e, assim, faz nascer um novo pensamento visual, capaz de traduzir de maneira inédita a complexidade do mundo. Não à toa Deleuze dirá que Epstein, ao fazer a defesa do caráter diabólico do cinema (Le cinéma du diable, outro de seus escritos), consegue ver continuidade e mistura onde antes a filosofia só via dualismo e separação.

A filosofia do cinema dá um salto qualitativo com Jean Epstein. Com André Bazin, ela afirma definitivamente sua autonomia. E, se com Epstein temos que o cinema cria uma realidade própria, por outros meios incognoscível, com Bazin voltamos ao questionamento das relações entre o cinema e nossa realidade por meio do questionamento da realidade do cinema. Ao tentar responder sem rodeios o que é o cinema, Bazin inicia a mais filosófica das investigações cinematográficas: a ontologia do cinema.

O ponto de partida de Bazin é a fotografia. Em “Ontologia da imagem fotográfica”, de 1945, ele escreve:
“A originalidade da fotografia em relação à pintura reside, pois, na sua objetividade essencial. Tanto é que o conjunto de lentes que constitui o olho fotográfico em substituição ao olho humano denomina-se precisamente ‘objetiva’. Pela primeira vez, entre o objeto inicial e a sua representação nada se interpõe, a não ser um outro objeto. Pela primeira vez, uma imagem do mundo exterior se forma, automaticamente, sem a intervenção criadora do homem, segundo um rigoroso determinismo. A personalidade do fotógrafo entra em jogo somente pela escolha, pela orientação, pela pedagogia do fenômeno; por mais visível que seja na obra acabada, já não figura nela como a do pintor. Todas as artes se fundam sobre a presença do homem; unicamente na fotografia é que fruímos da sua ausência. (...). Nesta perspectiva, o cinema vem a ser a consecução no tempo da objetividade fotográfica. O filme não se contenta mais em conservar para nós o objeto lacrado no instante (...). Pela primeira vez, a imagem das coisas é também a imagem da duração delas, como que uma múmia da mutação” (pp. 13-14).

Parafraseando a tese de Bergson, Bazin confere a ela valor positivo. Para Bazin, o cinema revela o real e esse real revelado não é isento de mística, não é absolutamente objetivo. O cinema não faz somente cópia do real. O cinema não se deixa reduzir a registro documental do real, ainda que seja útil a arquivos históricos. O cinema revela o real ao participar de seu ser, de seu devir, repercutindo nele, ricocheteando nele de certa maneira, tocando “a carne e o sangue da realidade”, de maneira a nos impor uma tomada de consciência.

O modelo e o exemplo de Bazin é o cinema italiano do pós-guerra, especificamente o neo-realismo, ou, como ele prefere, alguns filmes dos diretores neo-realistas, por ele analisados magistralmente em “O realismo cinematográfico e a escola italiana da Liberação”. Em 1959, em entrevista para a revista Cahiers du Cinéma, Roberto Rossellini fez uma declaração que ficou famosa: “As coisas estão aí, por que manipulá-las?” É justamente esse ponto que interessa a Bazin. O cinema de Rossellini, De Santis, Visconti e De Sica implica uma tomada de consciência do real que produz a “imagem-fato”. Numa carta ao editor da revista Cinema Nuovo, publicada com o título “Defesa de Rossellini”, Bazin afirma que a diferença entre o artista realista tradicional (Émile Zola, por exemplo) e o neo-realista (Rossellini, especificamente) está em que o primeiro analisa a realidade e, de acordo com sua moral, reconstrói essa realidade por meio de uma síntese expressa em suas obras; o segundo, diferentemente, filtra a realidade por meio de sua consciência. O que o diretor neo-realista exprime em seus filmes, assim, é um recorte de real escolhido conscientemente. Mas essa escolha não é moral, ou estética, é ontológica, “no sentido de que a imagem da realidade que nos é restituída permanece global, da mesma maneira, se quiserem uma metáfora, que uma fotografia em preto-e-branco não é a imagem da realidade decomposta e recomposta ‘sem a cor’, mas uma verdadeira marca do real” (p. 352). Ora, o que Bazin afinal afirma é que a imagem do cinema neo-realista é um signo do real, do tipo que foca nossa atenção fatos particulares e, com isso, metonimicamente significa o real (um signo indicial, se usarmos a terminologia de Peirce).

Eis o ponto: é justamente essa visada específica, que recorta dos fatos o que interessa ao olhar do diretor, mas sem deformá-los, que acarreta uma tomada de consciência. Chegamos a construir o sentido ao vermos passar na tela um fragmento de real após o outro, junto com outros – eis porque Bazin prefere o plano-sequência à montagem, a concatenação das imagens-fatos ao corte que produz o conflito. Há, na tela, um ganho, um a-mais de realidade. O filme ganha sentido justamente porque não pretende dar sentido ao que já se basta a si mesmo. E em cada caso, esse ganho é algo diferente: “a beleza plástica das imagens, o sentimento social, a poesia, o cômico etc.” (p. 354).

Bazin desculpa-se por falar em metáforas, “não sou filósofo”, diz ele. A importância filosófica de suas reflexões não pode, porém, ser posta em dúvida. O cinema é ser em ato, sua realidade se faz durante e a cada seu aparecimento – nenhuma aparência é desqualificada em nome de uma essência superior e oculta. Mais uma vez, caem por terra os dualismos tradicionais, borram-se as distinções entre obra e modelo e mostram-se porosas e pouco resistentes as fronteiras entre real e irreal. Eis uma costura Epstein-Bazin: “O cinema é a realidade 24 quadros por segundo”, dirá Godard.

Que diriam Epstein e Bazin das telas de LCD, dos pixels, das imagens eletrônicas? Sua capacidade de auto-organização, que emula a de organismos biológicos vivos a partir de matrizes matemáticas, parece confirmar o que os dois autores diziam sobre a realidade cinematográfica. Parece que o cinema consegue mostrar algo que a filosofia muito tentou e pouco conseguiu demonstrar, ao menos desde que a filosofia é filosofia.


Referências

As duas obras de Bergson citadas podem ser baixadas, em francês, do sítio virtual http://classiques.
uqac.ca/classiques/bergson_
henri/bergson_henri.html, da Universidade do Québec em Chicoutimi.
Do mesmo sítio virtual, é possível baixar Le Cinéma du Diable, “Le monde fluide de l’écran” e L’intelligence d’une machine, de Jean Epstein: http://classiques.
uqac.ca/classiques/epstein_
jean/epstein_jean.html
André Bazin, em português, pode ser lido aqui: http://pt.scribd.com/
doc/7095758/Bazin-Andre-O-
Cinema-Ensaios

Cassiano Terra Rodrigues é professor de filosofia da PUC-SP.
Contato: cassianoterra(0)uol.
com.br

sexta-feira, 27 de julho de 2012

COMUNICADO JULHO / 2012

ATA DA REUNIÃO DA APROFFESP REALIZADA NO DIA 21-07-2012 NA “CASA DA SOLIDARIEDADE”
(Rua Gravi, 60 – Praça da Árvore – São Paulo, SP)

Estiveram presentes, na reunião, as seguintes pessoas:
Andréia C. Fagundes e Marcos Rogério Muniz, de Penápolis, SP; Adriano de Oliveira, de Mairiporã; Aldo Santos, Murilo S. Borges e Diógenes B. de Freitas, de São Bernardo do Campo; Cícero Rodrigues da Silva, da Zona Sul; Anízio Batista, da Saúde; Durval, Ednaldo Santana dos Santos e Chico Greter, da Lapa.

1.    Informes apresentados:
- A maioria dos presentes colocou que estão num processo de organização dos grupos regionais da APROFFESP, procurando aglutinar os professores e fazer contatos com as escolas, Diretorias de Ensino, etc. Procura-se garantir que nas DEs sejam nomeados PCNP (Professor Coordenador de Núcleo Pedagógico) de Filosofia;
- Ressalta-se uma organização já mais avançada em São Bernardo, com Aldo Santos, e na Zona Sul, com Cícero, onde os professores vão assumindo tarefas específicas, como coordenação, tesouraria.
- Prof. Chico Gretter falou dos Encartes do Professor que continuam sendo publicados na revista FILOSOFIA da Editora Escala, agora enviada para todas as escolas e bibliotecas públicas do Brasil (convênio MEC/FNDE). O Encarte é de responsabilidade da APROFFESP e conta com a colaboração dos professores membros e está sendo muito bem aceito pelos professores da rede! Quem quiser colaborar, é só entrar em contato com o professor Chico Gretter.
- Lembrou-se do sucesso das primeiras reuniões regionais estaduais realizadas em maio em mais de vinte regiões do Estado de São Paulo, o que demonstra uma mobilização importante dos professores de filosofia e nosso interesse em melhorar o ensino da disciplina nas escolas estaduais. Estamos providenciando uma síntese geral das discussões havidas nas regiões para serem publicadas     no blog da     APROFFESP e possivelmente numa revista a ser publicada até o final do ano.
0bs.: se alguma região ainda não mandou o relatório das discussões havidas e a lista dos presentes, favor providenciar!

2.    Reflexões e deliberações:
Tendo em vista o abono de ponto já concedido para as próximas reuniões estaduais regionais para 05 de setembro próximo, houve os seguintes encaminhamentos:
- Os grupos regionais deverão envolver o máximo de professores possível para participarem da reunião de 05/09/2012, sendo que, conforme publicação no D.O. pela Secretaria da Educação no dia 04/07 corrente, TODOS os professores de Filosofia poderão participar com abono de ponto;
- A APROFFESP deve procurar e aceitar parcerias com as regionais da APEOESP, Simpro, entidades de classe ou mesmo das Diretorias de Ensino onde haja PCPNs afinados com a nossa luta, evitando-se qualquer instrumentalização ideológica, respeitando-se a pluralidade das ideias, das práticas pedagógicas e das posições teóricas sobre o ensino da disciplina! É evidente que o respeito não impede o debate e o confronto democrático entre as posições contrárias, o que é próprio da essência do filosofar desde as suas origens;
- Os grupos regionais, além de fazer um levantamento das práticas e das posições dos professores sobre os “Cadernos de Filosofia" enviados pelo governo às escolas, deverão fazer uma discussão a fim de apresentar uma síntese do que os mesmos pensam sobre o que deve ser o ensino de filosofia e como deve ser o seu tratamento didático-metodológico com os jovens do Ensino Médio. As reuniões de 05/09 discutirão então a NOSSA PROPOSTA PEDAGÓGICA SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA que deverá ser apresentada ao governo atual;
* A APROFFESP irá agendar reunião com a Secretaria da Educação para apresentar nossas críticas e sugestões;
- Foram solicitadas as seguintes tarefas aos presentes no sentido de prepararmos as reuniões de 05/09, a saber:
·         Os professores Cícero e Diógenes irão fazer um texto sobre a conjuntura educacional;
·         Os professores Marcos e Andréia prepararão uma síntese da proposta curricular contida nos volumes distribuídos nos Encontros de Filosofia e Vida de 2005 (Serra Negra e Águas de Lindóia), que foram organizados pelos professores da UNICAMP na época (5 volumes);
·         O professor Chico Gretter também preparará uma síntese da Proposta Curricular de Filosofia de 1992 (SECENP), da qual é um dos coautores, e que representa o resultado de anos de discussão com os professores da rede na época, com a acessória de renomados professores/doutores das universidades.
·         O professor Aldo Santos e outros vão encaminhar a proposta pedagógica atual sintetizada.
Pediu-se também para que as coordenações regionais da APROFFESP encaminhem contribuições sobre a pauta a ser debatida no dia 05 de Setembro, bem como proposta de indicação da delegação  ao Iº Encontro Estadual de Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo.
DIRETORIA DA APROFFESP


Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo.



Guia de carreiras: filosofia

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quarta-feira, 11 de julho de 2012

DESPACHO DO GABINETE DO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO SOBRE A LIBERAÇÃO DE PONTO PARA REUNIÃO ORDINÁRIA DOS PROFESSORES DE FILOSOFIA.

Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo.

Comunicado:

O Diário Oficial publicou no dia 04/07/2012 o seguinte despacho do Gabinete do  Secretário de Educação do Estado de São Paulo:

“Interessado: Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo-APROFFESP.

Assunto: Afastamento/solicitação.

Autorizando. Diante do que consta no oficio 008/2012, e considerando as disposições do artigo 69 da lei 10.261/68, nos termos propostos o afastamento para o dia 05/09/2012, para os professores de Filosofia que participarem da reunião para aprofundar o debate com base  nos seguintes temas: Conjuntura Educacional e condições de trabalho; debate da proposta de filosofia do Estado de São Paulo; Relato e fatos do cotidiano do professor de filosofia; estruturação e funcionalidade das coordenações regionais da APROFFESP e Indicação da delegação ao  1° Encontro de professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo.”

Esperamos que com essa conquista possamos avançar ainda mais no debate filosófico na rede estadual e particular, aprofundando os temas propostos e coletivamente construirmos  uma proposta  debatida  democraticamente  pelos   professores  de Filosofia do Estado de São Paulo.

Convidamos a todos para que possamos nos empenhar na realização dessa importante atividade Filosófica. Solicitamos que as coordenações regionais da Aproffesp, constituídas na última reunião, assumam a realização desse próximo evento. Nossa próxima reunião da diretoria será no dia 21/07/201, na capital. Essa reunião é aberta aos professores.

Mesmo diante de um calendário exíguo, sugerimos que haja reuniões das coordenações regionais e nos propomos a comparecer as mesmas com o objetivo de consolidar e avançar ainda mais nossa união no Estado de São Paulo e no Brasil.

Com saudações filosóficas.

Atenciosamente,

Diretoria da Aproffesp

Presidente: Aldo Santos

Vice-presidente: Chico Gretter

Secretário: José de Jesus

Diretor de comunicação e propaganda: Cícero Rodrigues da Silva

Tesoureiro: Anízio Batista de Oliveira

Diretor de políticas pedagógicas: Antonio Celso de Oliveira

Diretor de relações institucionais: Rita Leite Diniz

Diretoria de Base da APROFFESP

Alan Aparecido Gonçalves, Professor em SBC;
Chirlei Bernardo do Nascimento, Professora em Guarulhos;
Gilmar Soares de Oliveira, Professor em Santo André;
Celso Augusto Torrano, Professor em Osasco;
Marcelo Henrique P. Naves, da Z.Norte- Capital;
Jairo de Sousa Melore, Professor em Mongaguá;
Edson Genaro Maciel, Licenciado em Filosofia, Araçatuba;
Fernando Borges Correia Filho, professor em Taubaté;
Carlos Rocha, Licenciado em Filosofia Hortolândia-Campinas;
Alexandre dos Santos Yamazaki, professor na Lapa-capital;
Sady Carlos de Souza, Professor em Rio Pequeno;
Anderson Grange, Professor em Jundiaí;
Marco Aurélio P. Maida, professor em Suzano.










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