segunda-feira, 18 de maio de 2020

MUITOS NÃO VOLTARÃO PRA CASA


 

O isolamento social é difícil, monótono, irritante às vezes...Mas os que estão em casa com pessoas queridas, aproveitem o momento para "curtir" juntos a presença dos que fazem parte de nossas vidas.

E esses momentos de nossa relação nem sempre são "leves" ou de alegria e prazer. Os desencontros também fazem parte do grande encontro da existência. Muitas vezes são estrelas cadentes que nos atingem a todo momento, mas pode ser também um grande meteoro a nos atingir como atingiu o planeta Terra há 65 milhões e os dinossauros foram extintos.

Aproveitemos esse momento de recolhimento, de isolamento social, para aprofundar nossos encontros com os que estão próximos e conosco mesmos. Esse encontro consigo e comigo mesmo é que são elas, não é fácil.

Muitos nesses dias de isolamento, isolados, deprimidos já há tempo infelizmente acabam se encontrando do derradeiro desencontro do suicídio, cujos dados estatísticos não são divulgados porque a nossa sociedade do prazer e do espetáculo procura esconder o triste e inexplicável fenômeno daqueles que tiram a própria vida, negando-lhe, em si mesmos, o sentido que a todo momento a mídia alardeia: "A vida é bela, divirtam-se, cuidem-se, amem-se, comam e bebam".

O suicídio nega, na prática solitária e absurda de um indivíduo, o sentido de tudo isso que viemos acreditando: em Deus, no amor, na saúde e na vida! O suicídio é um mistério, um absurdo, assim como não se explica as ações de um psico ou sociopata: simplesmente é absurdo, um fenômeno que a razão não consegue explicar, entender, e o sentimento não consegue aceitar.

Então, àqueles que estão em casa ou que podem voltar pra casa, não desperdicem seus momentos de alegria junto aos que amam. Curtam a vida, "carpe diem", aproveitem o momento! Muitos já partiram com essa pandemia e nunca mais poderão voltar pra casa; e os que estão em suas casas, como eu, jamais virá aquela pessoa querida chegar em frente ao portão e ver/ouvir seu "cachorro latindo".

Eles e elas partiram para sempre e nenhuma certeza nos garante que nos veremos de novo, que conversaremos como conversávamos e nos abraçaremos como nos abraçavamos. Respeito os que acreditam na "outra vida", no "além", num Deus todo poderoso que "está no controle" ou no Deus Cristão - Jesus Cristo - que nos ama e nos salvou.

O desenrolar da História humana não me permite aceitar tais consolos. Os quinze mil caixões com seus mortos que foram entererrados nos últimos dois meses , lacrados com entes queridos ceifados pelo coronavírus, estão lá inertes e não podem ver ou sentir a luz do sol desse lindo dia de outono.

Este é o triste fato. Mas curtir a vida não significa fazer churrascos e tripudiar os que partiram. Não precisamos "carregar um cemitério sobre os ombros", mas também não podemos ficar gargalhando a desgraça alheia dos que morreram ou dos que perderam seus queridos: filhos/as, pais, mães, avós, tios, irmãos/ãs.

Por mais que a economia volte a crescer, e crescerá sempre para uma minoria, os que se foram jamais voltarão; e os que ficaram, nunca mais poderão vê-los! Por isso não tenho o direito de ficar "leve" e achar que nada aconteceu.

Vamos viver a vida que, se não tem sentido, nada nos impede de darmos algum sentido a ela, como sugeriu o filósofo francês Jean-Paul Sartre. Para ele, tal SENTIDO não pode ser individual, pois o sentido da existência é coletivo e sempre exige de nós RESPONSABILIDADE diante de todos e diante do mundo. Mas sem desespero. Curtamos a canção interpretada por Raimundo Fagner - RETROVISOR - que canta a volta para casa, ao mesmo tempo que é "...levado pelo "movimento que sua falta faz"...Todavia, "Quem sabe tudo estará sorrindo quando eu voltar". É triste, lamentavelmente muitos não voltarão!

São Paulo, 17 de maio de 2020 - 


Prof. Ms. Chico Gretter - filósofo - Diretor da APROFFESP

Um comentário:

  1. A morte no passado era um fenômeno coletivo, comunitário, social; a modernidade escondeu a morte através de práticas higienistas e eugenistas! Por isso uma pandenia que traz a "cara" da morte para o âmbito social assusta tanto e nos deixa perplexos, com medo. Ora, o problema não é morrer, mas viver morrendo e ainda orientado por políticas de Estado!

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