VINICIUS MOTA
publicado na filha de SP.25/06/2012
SÃO PAULO - Na antiga ágora ateniense, a regra era debater bem vestido. Num discurso famoso, Ésquines destruiu seu opositor Timarco por ter, entre outras lambanças, quebrado esse protocolo.
Sólon, disse Ésquines fazendo menção a um dos pais da democracia grega, era "modesto demais até para falar com seus braços para fora da túnica". Já Timarco "dia desses numa assembleia do povo arrancou sua túnica e saltou feito um ginasta, seminu". A gente de bem "cobriu os olhos de vergonha pela cidade, por deixarmos homens como esse posarem de nossos conselheiros".
A ginástica, esta sim, deveria ser praticada sem roupa ou em traje sumário, mesmo em público. O objetivo era mostrar as proezas do corpo moldado. O exercício era tão valorizado na educação ateniense que o termo "gymnos" (nu) deu séculos de piruetas e hoje nomeia as escolas para adolescentes, os ginásios.
Eis que, da Ucrânia ao Brasil, uma onda de nudismo invade a ágora moderna e subverte o modelo clássico. Vestidas na ginástica e peladas na rua, as ativistas do grupo Femen desafiam a pudicícia e a truculência das autoridades eslavas. Fora, Eurocopa; basta de mulheres exploradas pela prostituição; chega de cortar a aposentadoria do povo. As bandeiras são diversas, o método não.
A moda chegou à Rio+20. A organização Tambores de Safo desfilou com mulheres de topless sob críticas de feministas das antigas. Um homem e duas mulheres do grupo Ocupa Rio tiraram tudo. "Democracia
real não representa; a vida não está à venda", escreveram, entre a pelve e o pescoço. São influenciados, explica um dos líderes desta agremiação, pelas ideias do ensaísta francês Michel Foucault (1926-1984).
Filósofo da conspiração total o "poder", essa entidade sem forma, está em toda a parte e vai te pegar-, Foucault parece ele mesmo ter ocupado a cabeça das organizações de esquerda. Bem, não só a cabeça.
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