“Carnaval é realmente alegria...
Mas infelizmente os tempos mudaram, o trânsito nos agride, o stress é o mal do século, as doenças são invisíveis pra quem não as tem, a violência arromba nossas portas e todo cuidado é pouco.
Mas é carnaval... e por que não carnaval com responsabilidade?
Podemos sim, deixar a festa acabar, o barco correr e o dia raiar, mas não esquecer que amanhã tudo pode ou não voltar ao normal e seja você quem for, seja o que Deus quiser. Mas a responsabilidade é sua”.
(Daiane Ataides)
A primeira tese é de que o Carnaval descende dos festejos rurais de verão que ocorriam 10 mil anos antes de Cristo e era a forma de os povos agrícolas comemorarem o fim do período do frio e da escuridão. Há, porém, quem acredite que o Carnaval se originou das festas em homenagem aos deuses Ísis e Ápis, no Egito, mas é mais provável que ele derive das Saturnais e Bacanais de gregos e romanos. Nas bacanais, as sacerdotisas celebravam os mistérios do culto a Dionísio, na Grécia. Saturno era o deus da agricultura dos antigos romanos. Nessa festa, os escravos saíam às ruas para comemorar a liberdade e a igualdade entre os homens, cantando e se divertindo em grande desordem.
No Brasil, a forma de comemorar o Carnaval é uma herança portuguesa, com certeza.
Os brasileiros incorporaram alegremente o entrudo português (folguedo carnavalesco antigo, que consistia em lançar, uns aos outros, água, farinha e tinta), que por aqui reinou do tempo do Brasil Colônia até final do século passado, e aproveitaram as festas religiosas e as comemorações oficiais festivas, incorporando elementos como os estandartes, as alegorias e os cortejos à farra carnavalesca.
Dito isto sobre a parte histórica do Carnaval, todos os anos quando chega essa época os veículos de comunicação apressam-se em colocar no imaginário coletivo imagens chamativas que dá o tom do clima de festa durante esses dias. As vinhetas nas televisões que o digam.
Muitas pessoas que estão em busca de trabalho, nessa época do ano, procuram arranjar uma oportunidade para ganharem algum dinheiro e sair do sufoco.
Quando passamos ao lado de galpões, por exemplo, vemos pessoas trabalharem dia e noite nos preparativos dos carros alegóricos para o grande desfile das escolas de samba.
A indústria do Carnaval movimenta a economia do país; e uma demonstração disso é Salvador – BA, só para ficar em um exemplo, onde os trios elétricos contratam muitos “cordeiros”, pessoas que seguram cordas para impedir a entrada de foliões sem abadás (fantasias) nos trios elétricos. Trata-se de um trabalho temporário que envolve o turismo e a cada ano ganha força.
Nesse período, vemos também, nas cidades onde se realizam grandes desfiles, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Olinda – só para citar o pelotão de elite do Carnaval no Brasil -, quem dispõe de salas comerciais para alugar, apartamentos para locar, indústrias de diversos produtos, lucram muito com o Carnaval.
O Carnaval agita a vida da população e muitas pessoas juntam suas economias durante os meses que antecedem esta festa, tendo em vista curtirem o máximo a folia, inclusive viajando para os locais de maior destaque no país nesses dias.
Enquanto muitos aproveitam o Carnaval para se divertir sadiamente, infelizmente, outros excedem nas bebidas, se afogam nas drogas e cometem barbaridades ao volante, cujos resultados são os altos índices de acidentes de trânsito e os homicídios que ganham destaque nas ocorrências policiais. É claro que esse cenário não se restringe a esses dias de festas do carnaval, mas conhecemos bem essa novela que todos os anos se repete nas festividades carnavalescas.
Apesar desse aspecto negativo do Carnaval, demonstrado pelos fatos, ele é a maior expressão de festa popular, onde cada região implementa sua marca particular, mostra sua criatividade, imaginação, originalidade e diversidade de um país continente.
O Carnaval também carrega consigo seu lado glamouroso, a manifestação de alegria de nosso povo, que, a cada ano que passa, cria coisas novas que surpreendem, seja no tocante às alegorias, ou referente aos temas dos enredos apresentados pelas escolas de samba. É um banho de história, afirmação de nossas tradições, uma oportunidade para fazer crítica social e reivindicar um país melhor para todos.
Mas, é fundamental atentarmos para um outro aspecto que envolve o Carnaval, que é justamente a comercialização desse evento por parte de setores da sociedade, que ao transformá-lo em espetáculo, coloca o lado mercantil acima de tudo, explorando o máximo que pode, pois visa apenas o lucro como meta e nada mais. Prestarmos atenção à trama que tece a colcha do Carnaval deve ser uma preocupação necessária, afinal de contas, muitas vezes, dinheiro de arrecadação pública é colocado para na sua organização, a fim de dar um gás aos festejos...
Portanto, se você vai participar do Carnaval, saiba aproveitá-lo, se divertindo para valer e que prevaleça o lado sadio dessa grande festa.
O que não vale a pena, definitivamente, é aproveitar o Carnaval para fazer extravagâncias descabidas, prejudicar a si mesmo e aos outros; e, na quarta-feira de cinzas, achar que, ao participar do ritual cristão para receber as cinzas na cabeça, os males cometidos serão apagados.
Após o Carnaval, o que há para todos, na verdade, é a volta ao trabalho, no chão duro da realidade.
Por isso, muita atenção: não estrague esta festa bonita, transformando alegria em tristeza.
Ivo Lima
Professor de Filosofia da Rede Pública Estadual e Escritor
Autor dos livros: O
Recheio que faltava em sua vida
A Direção da vida
Membro da Associação de professores de filosofia do Estado
de São Paulo - APROFFESP
E-mail: ivolimasantos@yahoo.com.br