segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A IRA - “A ira é a mais terrível e furiosa das emoções”.


(Lúcio Aneu Sêneca, filósofo romano, 4. a. C. – 65 d. C.)

Professor Ivo Lima
é um dos colaboradores do blog
   
Nosso dia a dia da vida moderna parece mais um furacão que atropela quem cruza o seu caminho, joga tudo por terra. Principalmente para quem vive nos grandes centros urbanos, que passa horas nos engarrafamentos, repleto de motoristas barbeiros, apressados, estressados, afeitos ao descontrole, caindo na mala dos xingamentos, quando não em agressões físicas que, às vezes, terminam com vítimas fatais. 

Mas, quando os simples mortais querem fugir desse caos aqui na terra e vão adquirir suas passagens nos aeroportos do país, deparam-se com uma tragédia que há muito tempo estava sendo anunciada, uma vez que nosso sistema aéreo vive uma crise sem precedentes e esse quadro teima em permanecer dando as cartas, apesar dos esforços de algumas autoridades, que procuram resolver essa situação o mais rápido possível. 

Nessa arena quente feito brasa aflora a raiva como uma cão feroz e, por mais que se tente acalmar e manter o controle da situação, é um dragão que vocifera e quer quebrar tudo pela frente. 

Mas como se controlar diante dessa realidade apontada acima? 

Pensando numa resposta filosófica para o assunto, encontrei no pensador de Córdoba-Espanha, Sêneca, em sua obra “Da ira”, uma reflexão que nos aponta uma saída. 

Um primeiro aspecto que o filósofo aponta é o fato de as pessoas acostumarem-se a ser muito otimistas sobre os fatos e não se prepararem para aquilo que pode dar errado. Seria adotar uma posição conformista? Não, responde Sêneca, e argumenta: “As coisas não têm que ser, necessariamente, como esperamos que elas sejam”. Porém, é preciso ter claro aquilo que podemos mudar e o que não está ao alcance alterar. Nesse sentido, levamos uma grande vantagem em relação a outros animais, porque temos a “razão” e a “liberdade” para agir, mudar a realidade ou fazermos uma “reflexão diária” sobre o que pode dar errado e nos prepararmos melhor para enfrentá-la. Com isso a única maneira de nos protegermos contra as adversidades é nos prepararmos psicologicamente para o que pode dar errado. 

Mas isso não levaria as pessoas a se eximirem de suas responsabilidades em situações como as que escolhemos para exemplificar esse tema? Segundo a ótica de Sêneca, não. Mas não é demais alertar para esse perigo. 

Por outro lado, se diante de uma realidade muito difícil nos disser “vai ficar tudo bem”, não seria pior do que nos preparar para o que, de fato, pode ocorrer? Seguindo as pegadas desse filósofo, embora essa afirmação, a princípio, pareça trazer conforto, não livra a pessoa daquilo que realmente pode ocorrer. E, aí, a surpresa pode acarretar fúria, porque teremos a sensação de que incorremos em injustiças e ninguém nos alertou devidamente. 

Disso, podemos concluir que a forma como procuramos encarar as adversidades faz toda diferença, para que não criemos expectativas em demasia, porque de acordo com a tese de Sêneca, é preferível optar pelo pessimismo. 

Isso n ao quer dizer lavar as mãos diante das possibilidades que temos para mudar as situações que estão ao nosso alcance, mas não querer alterar coisas que não dependem só de nós e sofrermos por antecipação. 

Será isso realmente possível, por exemplo, num engarrafamento quilométrico nos centros urbanos? 

Por incrível que pareça, num desse grandes congestionamentos, um dia, presenciei duas cenas completamente opostas: de um lado, um motorista que esbravejava feito um leão sobre o trânsito que não fluía de jeito nenhum, num sol abrasador; bem próximo dele, um senhor que ao som de uma música dos anos 60, em alto volume, cantava, pulava, gesticulava e parecia rir da própria desgraça. 

Fiquei pensando: será que ele leu Sêneca?


Ivo Lima
Professor de Filosofia e escritor
Autor dos livros: O recheio que faltava em sua vida
A direção da VIDA
Membro da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo - APROFFESP
E-mal: ivolimasantos@yahoo.com.br

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